Texto – provocação fev./mar. 2022

SEÇÃO EM DISCUSSÃO

TROCANDO IDEIAS SOBRE A ESCOLA DO PRESENTE E DO PASSADO

Professora Alcira Pereira Carvalho Silva, em Em aula de Prática de Ensino no CEDBC/Jacobina – 1971. Foto publicada no texto de sua autoria A EDUCAÇÃO EM JACOBINA-BAHIA: MEMÓRIAS DE UMA EDUCADORA

   

O TEXTO-PROVOCAÇÃO que colocamos para sua leitura aborda a relação entre a ação dos professores e a construção da escola, tema central da SÉRIE HISTÓRIAS DE PROFESSORES, HISTÓRIA DA ESCOLA que estará presente em nosso Blog, a partir da edição fevereiro/março de 2022.

O estímulo para sua escolha veio da história contada por ALCIRA PEREIRA CARVALHO SILVA em um texto que foi assim resumido:

Trata-se de um texto que registra a evolução da educação em uma cidade do interior da Bahia (Jacobina) sob a ótica de uma educadora que construiu e constrói esta história”.

EIS AQUI O TEXTO-PROVOCAÇÃO:

 Trechos selecionados da apresentação por Jean Peneff da obra “Autobiografias de professores” de escolas públicas e privadas (católicas ou patronais) [1]

   

[…]. Portanto, em certo sentido, esses autobiografados são representativos da maioria dos membros de sua profissão. Antes de nosso encontro, eles jamais tinham se deparado com uma tentação autobiográfica. Eles não teriam contado suas lembranças sem minha insistência. Não eram, portanto, nem escritores, nem indivíduos fascinados pelo seu passado […] Ao contrário, estavam dispostos a dialogar com um pesquisador como sujeitos da história escolar regional. Reside aí a grande diferença em relação a outras histórias de vida, nas quais os autores constroem longamente e amorosamente uma imagem deles mesmos que querem perpetuar através das pesquisas ou dos livros.

A aplicação das leis de Jules Ferry foi muito difícil e lenta. A geração mais antiga dos nossos interlocutores [os entrevistados] teve a responsabilidade de fazer cumprir a obrigatoriedade escolar [introduzida na Franaça, em 1880 pela lei Jules Ferry]. Os meios de coerção previstos pela lei[…] não eram ainda utilizados, foi pelo seu  trabalho e sua influência que os professores convenceram os últimos refratários.

[…]

Quando os professores contam sua carreira ou descrevem o que foi sua atividade cotidiana, percebe-se a grande diversidade das situações que eles encontraram e das soluções que eles tiveram de adotar diante de problemas imprevistos. Eles deviam adaptar o ensino às condições de vida e trabalho das crianças do meio rural. Criaram cursos noturnos para sanar as defasagens de escolaridade. Improvisaram, por exemplo, um ensino agrícola. Como sempre, nesses casos, eles se viam obrigados a contornar as normas oficiais para resolver os problemas de organização. Estas constatações nos ensinam que a história do ensino, largamente conhecida na sua forma centralizada pelo estudo dos textos, dos manuais e dos programas, não pode se limitar à análise das leis, regulamentos e diretivas. Longe da administração, os inspetores primários e os professores aproveitando-se de uma real autonomia, adaptaram a instituição à realidade. Tem-se aqui a confirmação do obstáculo que constitui o filtro administrativo para uma verdadeira história da instituição escolar.

Por estar também publicando narrativas de professores privados, eu queria ressaltar esta evidência: havia, na França, dois ensinos primários. A escola católica tinha sua organização, seus manuais, sua pedagogia e seus programas. Quando se evoca a existência desses dois sistemas e quando se sugere a variedade de status e das condições de trabalho no seio de cada um, vê-se o erro que seria falar da escola primária no singular. É erroneamente que se formulam teorias a propósito de uma escola primária única, em uma época em que a instrução provinha, de fato, de várias instituições. A autobiografia tem ao menos o mérito de nos advertir, como se necessário fosse: quando se desce ao nível do concreto, os fatos superam amplamente as teorias muito simplificadoras.

[…]. Os professores públicos rememoram uma época  heróica quando, saindo da Escola Normal, eram enviados para um pequeno posto de trabalho e se viam  “ plugados” no que eles chamavam     “ A Idade Média” onde enfrentam o peso das tradições, relações  sociais fechadas, ausência de intercâmbios com o exterior. Eles descrevem como a segunda guerra mundial com seus transtornos demográficos, o êxodo dos refugiados, as escolas urbanas fechadas, produziu um sopro de mudança.

Se não se respeitava “Monsieur le Regent” não se lhes enviava, portanto, as crianças regularmente. A primeira tarefa com a qual todos os professores foram confrontados, sem preparação prévia, foi a de obter para a escola esta legitimidade e de assentá-la definitivamente. Para tanto, era necessário ganhar a estima da população, isto é, se manifestar na vida local […], entrar nas residências. Era necessário, também, oferecer seus serviços para redigir uma carta […], dar um conselho […]. Além de tudo,  era necessário  organizar materialmente a escola, garantir a cantina, obter recursos da prefeitura[ administração local] e algumas vezes oferecer lazeres  à população ( o cinema , o esporte).

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[1]Tradução livre de trechos do texto Autobiographies d’enseignants d’écoles publiques et privées de Jean Peneff publicado em Les Cahiers du Lersco, n. 8, jan. 1987” .

   

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Depois de ler o texto, conheça a história que nos inspirou a considerar o escrito de Peneff como um TEXTO -PROVOCAÇÃO visitando a Exposição Escolar Alcira Pereira Carvalho Silva, professora primária e secundária: Uma testemunha da História da Educação em Jacobina/Ba de 1933 a 1981

Link para visitar a exposição:

https://modosdefazer.org/exposicao-fevereiro-marco-2022/

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TROCANDO IDEIAS

O que você acha da afirmação: HISTÓRIA DE PROFESSORES, HISTÓRIA DA ESCOLA?

Que ideias ou recordações o texto de Peneff provocou em você?

O que você achou da Exposição escolar ?

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8 comentários em “Texto – provocação fev./mar. 2022

  1. Maria da Conceição da Rocha Marcellino 27 de março de 2022 — 15:09

    Boa Tarde, Tereza Cristina!
    Obrigada por compartilhar.
    Gostei!
    Parabéns!

    1. Nós do Blog Modos de Fazer Educação na Bahia é que agradecemos a Tereza Cristina por nos fazer conhecer a história da sua mãe e pela generosa cessão do texto que deu origem a públicação. Aliás, localizei na Internet trabalhos acadêmicos que citam os textos escritos pela professora Alcira, mãe de Tereza Cristina

  2. Coisa boa é receber um texto desse. Uma benção.
    Obrigada

    1. Que bom que você gostou. Teremos mais histórias. Em outras páginas do blog também já falamos de professores. Você visitou todas as seções do blog?

  3. Muito importante a publicação desse texto
    .resaltando o trabalho de uma verdadeira educadora. A Campanha da Fraternidade nos adverte: “Falar com sabedoria e ensinar com amor”

    1. Obrigada, Regina por compartilhar a sua opinião. Realmente, o texto da professora Alcira revela um misto de sabedoria e de prazer por atuar na área de educação, nos diversos cargos que ocupou.

  4. Ilma Carvalho Nunes Leite 28 de março de 2022 — 14:01

    Muito importante conhecer o trabalho da professora Alcira, grande educadora. Sempre foi um exemplo de dedicação e competência. Toda a nossa admiração e respeito, pela sua trajetória educacional e, principalmente como um ser humano incrível.

  5. Verdade, Ilma. É muito importante mesmo conhecer essas histórias que estão adormecidas. Nós do Blog Modos de Fazer ficamos honradas em contar um pouco da trajetória da professora Alcira.
    Agradecemos também a você Ilma pelo comentário.

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