Em discussão: Texto-provocação janeiro/2022

A demolição do prédio do CMEI Baronesa de Sauípe (1935-2021)

Verônica de Jesus Brandão

 

Imagem da fachada do CMEI Baronesa de Sauipe.
Disponível em: <<http://educacao3.salvador.ba.gov.br/mostra-de-arte-destaca-a-historia-do-cmei-baronesa-de-sauipe-e-expoe-producao-de-alunos/>&gt;

Hino do CMEI Baronesa de Sauípe

Quando venho para Escola Baronesa

Meu coração bate tão feliz

A Baronesa de Sauípe é quem criou

Esse espaço de amor

Antigamente aqui era uma fazenda

E uma escola ela mandou construir,

Para as crianças poderem estudar

E também se divertir

Rosa, Amarela, Azul, Verde e Lilás,

Com essas salas coloridas

Nossa escola é demais!

Aprendendo e ensinando com emoção,

Baronesa é minha vida e mora no meu coração.

O Hino do CMEI Baronesa de Sauipe foi um dos resultados do projeto Fazendo música desde pequenininho realizado na unidade em 2010. A composição contou com a participação das crianças, professoras e a orientação do músico Aroldo Macedo (filho de Osmar Macedo), ex-aluno da escola.

 

Pais, alunos, ex alunos, comunidade, professores, gestores e funcionários lamentam a demolição.

Foi cantando o hino da escola que funcionários, professoras e gestão se despediram do prédio onde durante mais de 50 anos abrigou o CMEI Baronesa de Sauípe. Fundada em 13 de maio de 1935, na cidade baixa, o Centro Municipal de Educação Infantil Baronesa de Sauípe, (na época denominada Jardim de Infância Baronesa de Sauípe) foi construído em terreno doado pela Baronesa de Sauípe ¹.

 

Essa foto representa muito da alegria do CMEI Baronesa e Sauípe
Foto tirada em dezembro 2021 na confraternização e despedida do prédio.

A Escola foi construída na gestão do governador Juracy Magalhães com intuito de promover educação pré-escolar. Criada e dirigida pela professora Angelina de Assis o Jardim de Infância na rede pública foi um marco na educação infantil no estado. Naquela época e em períodos anteriores, poucas ou nenhuma eram as instituições voltadas para essa faixa etária. Documentos oficiais da época revelam que na Primeira República e nas décadas seguintes houve um Jardim de Infância funcionando no Instituto Normal. E outras referências indicam a presença desse tipo de ensino em instituições particulares.

Relatórios e outros documentos oficiais sobre as escolas municipais de Salvador trazem evidências sobre o funcionamento de uma classe de educação infantil no Grupo Escolar Rio Branco, situado no então distrito da Penha, na Península de Itapagipe, região da cidade baixa de Salvador em 1916².

O que nos leva a afirmar que a Baronesa de Sauípe possa ter sido o primeiro jardim de Infância de ensino público da Bahia com prédio próprio pensado especificamente para atender a infância obedecendo aos requisitos da época para um bom funcionamento de um jardim de infância.   Nas memórias da escola em seus 41 anos de existência as professoras Angelina de Assis e Isabel Xavier relatam que em 1953 as classes foram ampliadas com a abertura do turno vespertino. O que minimizou a procura por vagas nesse jardim de infância. Tempos depois a escola passa por mais uma ampliação.

O prédio que abrigava a antiga escola Baronesa de Sauípe foi reinaugurado em 1963, depois de uma reforma que levou à demolição do antigo prédio. A reforma foi para ampliar as instalações e poder ofertar um número maior de vagas para população que fazia filas e desejava ter seus filhos no Jardim de Infância dirigido pela professora Angelina de Assis. Essa ampliação era um anseio da comunidade que buscava matricular seus filhos “no ‘Jardim de Infância’ mais velho e mais renomado da capital”. Esse é o apelo de um pai que reivindicava a ampliação da escola que na época contava com duas salas. (E.M.Rosa, 1956).

 

 

                                         A antiga escola cheia de recordações, foi demolida e suas classes passaram a funcionar, em caráter provisório, na Alfredo Amorim. Era um gigante que se abatia pra renascer com o mesmo espírito de abnegação e de trabalho. Era o passado que adormecia, num mundo encantado, como nos contos de fadas, para despertar numa realidade de outro dia cheio de sonhos vividos e confiança humana.

(A escola Baronesa de Sauípe, uma experiência em educação pré-escolar na Bahia 1935-1976).

 

Em 1963 a inauguração do prédio do Jardim de Infância Baronesa de Sauípe foi noticiada em jornais de circulação da época, tendo contado com a presença de autoridades locais e de outros estados. A reforma ampliou a quantidade de salas, criou o auditório e instalou o parque infantil. 

Por volta de 2012 nova reforma. Em página da Internet, na gestão de JOÃO CARLOS BACELAR BATISTA como Secretário de Educação da Prefeitura Municipal de Salvador as fotos abaixo retratando o interior da escola foram exibidas no flick.com. E uma notícia sobre a reinauguração do CMEI, em fevereiro de 2012, em site da Prefeitura Municipal de Salvador, traz a seguinte descrição:

O CMEI Baronesa de Sauípe, que tem capacidade para atender 250 crianças da Educação Infantil, possui cinco salas de aula, diretoria, secretaria, sala dos professores, sala de leitura, cozinha, refeitório, depósitos de alimentação escolar, material de limpeza e acervo didático, quadra esportiva, auditório, área de lazer descoberta, além de sanitários para alunos de educação infantil e rampas de acesso para portadores de necessidades especiais. (http://educacao3.salvador.ba.gov.br/prefeitura-reinaugura-duas-unidades-escolares-em-salvador/)

Fotos de 2012 por ocasião da reinauguração do CMEI Baronesa de Sauípe.

FONTE: Imagens disponíveis em: https://www.flickr.com/photos/joaocarlosbacelar/6939232821/in/photostream/

Acesso em 18 de Jan. 2022.

 

Muitos anos passados, agora revivemos esse sentimento de despedida e saudade desse lugar de memórias esse espaço que funda a educação infantil sediada em prédio pensado para atender as especificidades da infância desde sua arquitetura perpassando pela metodologia e prática pedagógica. Tudo muito bem desenhado por Angelina de Assis há mais de 86 anos. Agora presenciamos esse monumento da educação infantil que foi erguido na Bahia, ser apagado, saindo de cena para ceder lugar a uma arquitetura talvez mais moderna, mais atraente, só não com as marcas daqueles que por lá passaram.

As paredes, os espaços, os objetos guardam as memórias dos tempos vividos, dos laços feitos e das histórias tecidas de cada um de cada uma que vivenciaram esse lugar. Um prédio com tantos anos de fundação com certeza carece de manutenção, reforma e por que não preservação. Quem conhece a história da educação na Bahia reconhece a importância do CMEI Baronesa de Sauípe e de outros prédios escolares, e se questiona sobre o que se tem pensado para preservação de acervos, prédios e tudo mais que compõe a materialidade da escola que conhecemos hoje.

Enquanto isso, em um vídeo feito por vizinhos do CMEI se fala em “luto na cidade baixa” pela demolição em dezembro de 2021 dos prédios do CMEI Baronesa de Sauípe e da Escola Alfredo Amorim, ambas sob a gestão do município.

Nos despedimos com a certeza de quanto é verdadeira a afirmação da ADI Verônica Sales: “A nossa essência sempre permanecerá!


¹ Nome da Baronesa de Sauípe: Maria Sauípe Leite conforme informações prestadas a unidade por Aramis Ribeiro Costa, autor do livro “Memórias de Itapagipe – anos 50 do século XX” e ex-aluno da escola.

² Cândida Monteiro, em seu estudo sobre A trajetória do primeiro grupo escolar da Bahia de 1905 a 1929, indica que em 1916 foi o primeiro registro, até então localizado, que indica o funcionamento de uma escola infantil no Grupo Escolar Rio Branco.

Para saber mais, consultar:

 1. MONTEIRO, Cândida P. dos Santos. Grupo escolar Rio Branco A trajetória do primeiro grupo escolar da Bahia de 1905 a 1929. In: SANTANA, Elizabete Conceição; SOUSA, Ladjane Alves; BRANDÃO, Verônica de Jesus; (org.). Modos de fazer Cultura e memória da escolarização primária na Bahia. Salvador, EDUFBA, 2020.

2. PASSOS, Elizete. Angelina de Assis (1915-1988). Salvador, 2009.

 

Sobre a autora:

Verônica de Jesus Brandão, professora do CMEI Baronesa de Sauípe. Tem mestrado em educação pelo PPGEduc/UNEB onde desenvolveu pesquisa sobre as Conferências Pedagógicas realizadas em Salvador entre 1913 e 1915. É uma das editoras do Blog Modos de Fazer Educação. Atualmente está interessada em estudar a história da educação infantil na Bahia.

Para ampliar sua visão sobre as questões apresentadas no texto provocação acesse aqui a Exposição janeiro/2022 -CMEI BARONESA DE SAUÍPE: 86 ANOS DE HISTÓRIA

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2 comentários em “Em discussão: Texto-provocação janeiro/2022

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