A foto de abertura da Exposição Escolar de Setembro 2021 foi publicada, em 1930, no Álbum artístico, comercial e industrial organizado e editado por Manuel Rodriguez Folgueira, com a legenda “Fachada do edifício do Grupo Escolar e um dos mais importantes do interior do Estado”.
Grupos Escolares na Bahia
Modelos de escolarização primária e símbolos da modernidade pedagógica
Nas décadas finais do século XIX, seguindo a onda das mudanças que estavam acontecendo em diversos lugares no mundo, o Brasil se empenhou em um projeto de transformação social e modernização do país, na tentativa de romper com a sua estrutura colonial. Esse processo de transição foi implementado nas esferas política, educacionais, econômicas e culturais do país. Nessa conjuntura, a educação pública foi utilizada como um dos instrumentos dessa transformação, com vistas à civilização e à democratização do ensino público.
Buscando inspiração em Luz (2009), observamos que o projeto educacional previa aparelhar as escolas desde os prédios amplos com construções seguindo os preceitos de saúde e higiene, com salas espaçosas, iluminadas e ventiladas, mobiliário adequado, material didático de acordo aos modernos métodos de ensino, para a disseminação do ensino intuitivo, nova organização pedagógica, através da seriação das classes, agrupamento dos alunos de acordo a idade e nível de conhecimento, direção escolar, tendo em vista que a realidade das escolas de primeiras letras do país em sua maioria não ofertava infra – estrutura básica para o funcionamento escolar.
No processo de modernização das cidades vimos uma reformulação na malha urbana, dentro da qual os prédios escolares foram considerados como templos do saber, conforme aponta Souza (1998). No estado da Bahia a implantação dos grupos escolares acontece de forma peculiar e acanhada, considerando que a situação econômica do estado e outros aspectos da realidade não possibilitavam a instalação em larga escala dos grupos escolares nas cidades do território baiano, embora eles estivessem presentes na legislação educacional como modelo de escolarização primária, junto às escolas isoladas e depois às escolas reunidas.
Ainda assim alguns municípios baianos foram dotados de prédios escolares para a instalação de grupos. As cidades onde os grupos foram inaugurados, vivenciaram esses processos de modernização e a instalação desses prédios fazia parte do projeto de reformulação urbana e educacional local, como será visto a seguir.
GRUPO ESCOLAR RIO BRANCO-Salvador, 1908

Instalado inicialmente, no ano de 1905, como Grupo Escolar da Penha, no âmbito do ensino municipal, era administrado pela Intendência de Salvador e estava localizado na região da cidade baixa, na península de Itapagipe. O grupo surgiu da conversão da primeira cadeira complementar do sexo masculino, do distrito da Penha, regida pelo professor e primeiro diretor da escola, Cincinnato Franca, importante educador, militante político e intelectual orgânico baiano que lutou incansavelmente pela educação pública primária.
Conforme Monteiro (2017, p. 91 e 92.) a solicitação, à Intendência Municipal, de uma máquina datilográfica feita pelos estudantes do Grupo Rio Branco, em 1913, como mostra a notícia publicada em um periódico de Salvador, nos aponta outro indicativo das práticas do ensino moderno na instituição, tendo em vista que na época o equipamento tecnológico era de grande importância no uso de atividades profissionais no comércio e setor público.

Foto do Grupo Escolar da Penha em excursão pedagógica, 1908. Posteriormente a instituição foi denominada de Grupo Escolar Rio Branco.
Fonte: VIANNA, Marisa. “… vou pra Bahia”. Salvador: Bigraf, 2004.
Na instituição, os preceitos da pedagogia moderna estavam presentes nas práticas dos seus professores. Um desses indicativos foi a excursão pedagógica de 1908, realizada pelo professor Cincinnato Franca e pela professora adjunta Emilia Imbassahy . A atividade, bem como outras que foram desenvolvidas ao longo das primeiras décadas do século XX, atesta o alinhamento do ensino no grupo escolar com os preceitos da modernidade pedagógica.

A imagem apresenta o prédio do grupo Rio Branco, em 1929, reconstruído desde a sua base, conforme as condições de higiene adequadas ao funcionamento escolar. A reforma do edifício, que em anos anteriores apresentava más condições sanitárias, contou com projeto de edital de concorrência pública desenvolvido pelo reconhecido engenheiro Américo Furtado Simas e plantas elaboradas pela Diretoria de obras públicas.
Fachada do Grupo Escolar Rio Branco em fotografia publicada, em 1930, no Relatório da Secretaria do Interior, Justiça e Instrução Pública, apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Vital Henrique Batista Soares, governador do estado, pelo Dr. Francisco Prisco de Sousa Paraíso, Secretario do Interior.
UM EM TEMPO: Em muitos textos consultados o Rio Branco foi considerado o primeiro grupo escolar do estado da Bahia. Recentemente, após análise da documentação levantada pelo GPEC sobre as escolas anexas à escola normal, observamos que o Rio Branco não foi o primeiro grupo escolar do Estado, mas o pimeiro instalado no âmbito da administração municipal da Bahia, pois as escolas anexas que funcionavam sob a dependência do governo estadual tinham a mesma estrutura pedagógica do Rio Branco. Funcionavam com jardim infantil, escola elementar e escola complementar como comprova o quadro inserido na página 90 do relatório datado de 1902, de Otaviano Moniz Barreto, Inspetor Geral do Ensino, anexo ao relatório de Francisco Prisco de de Souza Paraizo, Secretário do Interior, Justiça e Instrução Pública. Observe-se que, de acordo com a lei de reforma de 1895, haveria anexo à escola normal dois grupos escolares completos (art. 62) e, ainda, um grupo escolar completo compreende a escola infantil, a elementar e a complementar as quais poderiam funcionar em um só prédio ou em edifícios separados (art.10).
A insistente referência a essas escolas como anexas ou escolas modelo obscureceu o seu caráter de grupo escolar como concebido nas determinações das primeiras leis republicanas de instrução do Estado da Bahia.
Consulte as leis e os regulamentos de instrução do Estado da Bahia do período de 1890 – 1930 disponíveis no nosso Repositório de documentos históricos, (acesso em https://modosdefazer.org/documentos-historicos-levantados/ ) para ver como a concepção dessse modelo de escola só vai ser descrito de forma mais detalhada na legislação publicada na gestão de Anísio Teixeira, no período de 1924-1928).
GRUPO ESCOLAR J. J. SEABRA– Feira de Santana, 1916

Fachada do Grupo Escolar J. J. Seabra, em Feira de Santana.
Disponível em: http://www.feiradesantana.ba.gov.br/memorialdafeira/conteudo.asp?catimg=7#gallery7-12. Acesso em 09 de ago. de 2021.
Diante da representatividade quanto à modernização escolar que confere ao Grupo J. J. Seabra, o diretor do ensino baiano, Anísio Teixeira, em 1925, disse em entrevista ao Diário de Notícias de Salvador que esperava tornar aquela instituição um dos grupos escolares modelos da Bahia. Em 1927 a Revista de Educação, da Escola Normal de Caetité, destacou o grupo escolar de Feira de Santana como um dos mais bem organizados da Bahia.
O Grupo Escolar J. J. Seabra, construído no governo seabrista, foi instalado na Rua Conselheiro Franco, no centro da cidade de Feira de Santana e funcionou de 1916, ano de sua inauguração, até 1927 quando deu lugar a Escola Normal de Feira. Atualmente no prédio funciona o Centro Universitário de Cultura e Arte, da Universidade Estadual de Feira de Santana.
Na época, esse edifício escolar foi considerado o mais luxuoso de todo o estado da Bahia, seguindo o estilo arquitetônico eclético, misturado ao art – noveau e neoclássico, conforme apontou Souza, 2001. No início do século passado Feira já apresentava uma boa situação econômica decorrente do comércio de gado na região, em seu processo de modernização o município buscou romper com a tradição sertaneja almejando integrar os ideias progressistas republicanos.
GRUPO ESCOLAR GENERAL OSÓRIO – Ilhéus, 1916

Imagem do Grupo Escolar General Osório usada na abertura desta Exposição Escolar
O General Osório, inaugurado em 1915, foi construído à custa do município de Ilhéus, importante polo econômico baiano, decorrente das riquezas com a produção e agroexportação de cacau no final do século XIX. Com arquitetura de estilo neocolonial, o edifício segue a imponência das construções escolares propostas pelo projeto de modernização do país, pouco vistas na Bahia.
A construção obedeceu aos preceitos médicos e da higiene, voltados para a saúde dos estudantes, tendo o prédio sido edificado em terreno isolado para facilitar a circulação do ar e a entrada da iluminação solar
Dividido em dois pavilhões, um para o sexo masculino e outro para o feminino, o prédio foi composto por oito salas de aula amplas, as quais comportavam até 40 alunos, pátio central e sala para biblioteca ou sala dos professores.
Apesar da suntuosidade do General Osório, a graduação escolar, inovação característica do funcionamento dos grupos escolares, não foi posta em prática. Na instituição, em 1921, estavam reunidas escolas isoladas municipais e estaduais, funcionando de forma independentes umas das outras e não havia diretor/diretora, figura responsável por orientar a prática pedagógica no novo modelo escolar. Atualmente o prédio, abriga a Biblioteca Pública Adonias Filho e o Arquivo João Mangabeira, do município de Ilhéus.

Foto do prédio do Grupo Escolar General Osório publicada em 14 de junho de 2012. Fonte : Blog Ilhéus… com amor. https://ilheuscomamor.wordpress.com/
Acesse os links abaixo para ver textos publicados em 25 de março de 2011 e em 14 de junho de 2012 no Blog Ilhéus… com amor no enderêço https://ilheuscomamor.wordpress.com/
GRUPO ESCOLAR ÚRSULA CATHARINO – Salvador, 1929

Sobre o Grupo Escolar Úrsula Catharino, inaugurado em 1929, o registro abaixo descreve os aspectos que envolveram sua instalação em Salvador, no antigo distrito de São Pedro, Travessa de Nossa Senhora do Rosário, centro da cidade. Atualmente funciona no prédio do grupo o Colégio Estadual Úrsula Catharino.
Fonte: Relatório de Prisco Paraizo, 1930.
“ O Colégio Estadual Úrsula Catharino está sediado em um antigo sobrado com mais de 150 anos de construção, que foi doado ao Estado da Bahia pela família Martins Catharino, precisamente pelo Sr. Bernardo Martins Catharino, no ano da morte de sua esposa, a professora Sra. Úrsula Catharino.
Inaugurado como Grupo Escolar Úrsula Catharino, em 1º de novembro de 1929, tornando-se o primeiro Grupo Escolar de Salvador a manter essa inscrição sobressaltada em sua fachada até os dias atuais.
As palavras de agradecimentos do Governo da Bahia, pela doação do prédio pelo Sr. Comendador Martins Catharino, foram proferidas pelo Secretário do Interior, Dr. Prisco Paraíso, que havia bem traduzido o apreço e o agradecimento ao Governo, expressando: “A família, que é o agente da Educação no lar, ficava agora substituída pelo Mestre, que é o agente da Educação na Escola.” O Secretário encerrou o ato, proclamando inaugurada a luxuosa Escola Úrsula Catharino e convidou a Senhorinha Henriqueta e o Sr. Alberto Catharino, ambos filhos da homenageada, para descerrarem os retratos do doador e da denominadora da Escola. Estes retratos estão preservados até hoje, no Gabinete da Direção.
A cerimônia teve a presença seleta do Sr. Governador Vital Soares, que fez questão de comparecer com todos os seus Secretários, e suas Casas Civil e Militar. Viam-se mais, na assistência, o Sr. Prefeito da Capital, o Diretor de Instrução, membros dos Poderes Legislativo e Judiciário, professores, funcionários, alunos e representantes de outras classes. Para a Família Martins Catharino foi a doação mais avulta por ter sido uma daquelas casas a primeira moradia do Comendador Martins Catharino com sua família, nesta cidade, considerado, portanto, pelo doador, como um lugar quase sagrado para as recordações da sua vida de trabalho e das horas mais felizes do seu lar, quando ainda vivia a virtuosa esposa “.
DANTAS, RAFAEL, 2010
Disponível em: Colégio Estadual Úrsula Catharino (histórico)
Grupo Escolar Castro Alves – Jequié,1934

O Grupo Escolar Castro Alves foi instalado no centro de Jequié, em 1934, próximo a outras construções importantes como a Catedral de Santo Antônio de Pádua. Com arquitetura neocolonial, dois pavilhões, um feminino e outro masculino, contendo oito salas, biblioteca, seis sanitários etc., foi o primeiro prédio escolar público da cidade. Atualmente o edifício abriga o Museu Histórico de Jequié – João Carlos Borges, com um acervo diversificado referente a história do local.
Estudantes do Grupo Escolar Castro Alves.
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia-APEB.
De acordo com Eliana de Jesus (2017), que estudou a instituição e produziu a dissertação de mestrado intitulada “ O GRUPO ESCOLAR CASTRO ALVES EM JEQUIÉ BAHIA (1934 – 1971): Uma investigação histórica sobre o ensino de matemática”; apoiada em variadas fontes como documentos escolares, livros didáticos, cartilhas e manuais utilizados, bem como em depoimentos de ex – professores e ex – alunos da instituição, no grupo Castro Alves os estudantes aprendiam as quatro operações básicas da aritmética e a geometria, o ensino da matemática perpassou, predominantemente, pelo uso do método expositivo, envolvendo problemas do cotidiano. Também, buscou-se a integração da matemática com outras disciplinas.


Convite para o encerramento do ano letivo, no Grupo Escolar Castro Alves.
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia-APEB.
PALAVRAS FINAIS
Chegamos ao fim de mais uma EXPOSIÇÃO ESCOLAR. Teremos outros momentos para voltar ao tema modelos de prédios/modelos de escola. Relembramos aqui que ainda há muito para investigar sobre os grupos escolares. Acreditamos que essa publicação seja um estímulo para novas investigações e abordagens que podem encontrar inspiração na dissertação de mestrado: PARA UMA HISTÓRIA DOS GRUPOS ESCOLARES NA BAHIA: A TRAJETÓRIA DO GRUPO ESCOLAR RIO BRANCO (1905 / 1929) apresentada em 2017 ao programa de pós-graduação da UNEB por Cândida Pereira dos Santos Monteiro que serviu de base para a montagem desta exposição.
Para ler a dissertação de Cândida na íntegra, acesse Repositório de teses, dissertações e textos.
LEIA TAMBÉM NOSSO TEXTO – PROVOCAÇÃO DE SETEMBRO 2021 Grupos escolares: Um modelo de escola primária ainda carente de estudos na Bahia
CRÉDITOS
Seleção das imagens e organização da exposição: CÂNDIDA P. DOS S. MONTEIRO
Fonte das imagens e textos: Acervo da autora levantado principalmente em centros de documentação da cidade de Salvador -Bahia
Edição : EDITORAS DO BLOG MODOS DE FAZER EDUCAÇÃO NA BAHIA
Sobre a autora: Cândida Pereira dos Santos Monteiro tem mestrado em educação pelo PPGEduC/UNEB onde desenvolveu pesquisa sobre o Grupo Escolar Rio Branco, entre 1905 e 1929. É professora da rede privada de Morro do Chapéu, Chapada Diamantina e uma das editoras do Blog Modos de Fazer Educação.
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