Os depoimentos abaixo sobre o projeto Memória da Educação e Professora Jaci Menezes escritos por Alba Guedes Machado Mello, professoras parceiras e orientandas constituem o texto – provocação do mês de novembro. Leia e envie seus comentários.
Fazendo História: A memória da Educação na Bahia
Doutora Alba Guedes Machado Mello

Na segunda metade dos anos 1980, a Uneb recebeu o Projeto Memória da Educação na Bahia, liderado pela Profa. Dra. Jaci Maria Ferraz de Menezes, na então FAEEBA. Foi, talvez, um dos primeiros projetos de fôlego acadêmico financiado pelo CNPq, da Uneb. Como não havia cursos de pós-graduação na universidade, sediou-se no NUPE e seu financiamento contribuiu para a estruturação física e de recursos humanos desse núcleo. Essa foi, podemos dizer, a pedra fundamental. Inaugura-se, assim, a pesquisa acadêmica, particularmente na Educação, da Uneb, um marco histórico. Vale ressaltar que o Projeto Memória da Educação na Bahia já trazia estudos e produções, portanto, um acervo de pesquisa, desenvolvido em outros órgãos governamentais (CPE – Centro de Estudos e Pesquisas vinculado à Secretaria do Planejamento e IAT – Instituto Anísio Teixeira, vinculado à Secretaria da Educação), de considerável reconhecimento.
Na sua constituição, este Projeto colocava como questão central o porquê não se democratizava a educação na Bahia. Tinha, portanto, a intenção clara de estudar e contribuir para uma educação democrática, acreditando que a memória e o processo histórico é o caminho privilegiado para o entendimento do momento presente, quiçá o único capaz de construir uma consciência crítica que nos conduza à transformação social. Ainda mais por estar vinculado ao CPE, os estudos do Projeto Memória deveriam, em última instância, subsidiar as políticas públicas para a Educação na Bahia.
Apesar da finalidade instrumental (do planejamento estatal) não havia contradições ou impedimentos para desenvolver o Projeto num escopo de pesquisa acadêmica, rigorosa em seus procedimentos metodológicos e formativa para seu grupo de pesquisadores. Já no seu nascedouro, contou com a colaboração e consultorias de membros renomados da academia a exemplo de Ubiratan Castro e Carlos Nelson Coutinho, além da permanente presença de Luís Henrique Dias Tavares.
Nesse momento não nos parecia haver antagonismo ou contradições entre a natureza acadêmica da pesquisa – que pressupõe liberdade de pensamento e honestidade ética– e a finalidade pragmática de resultados tendo em vista subsidiar políticas públicas para a Educação.

É dessa época o estudo inédito sobre as Experiências Inovadoras da Educação na Bahia dos anos 1960, que se debruça sobre a influência e repercussões do movimento da Escola Nova e o esforço de diferentes coletivos de professores, apoiados por órgãos públicos, de construir uma escola democrática. Essa é uma das grandes contribuições à história da educação na Bahia, não só pelo ineditismo da temática, como também pela forma de construção da pesquisa: um seminários com seus protagonistas (professores, gestores e estudantes das respectivas instituições) e com estudiosos da temática que promoveram debates e reflexões.
A importância histórica do Projeto Memória coloca-se ainda no próprio âmbito da historiografia. É consenso entre os historiadores a crítica para a distorção historiográfica de denominar como História do Brasil apenas fatos e eventos do centro sul; as demais produções e estudos são tidos como “locais” quiçá por ter sua relevância nacional pouco conhecida ou analisada. Isso se aplica também aos estudos sobre História da Bahia que dão muito mais destaques e importância a Salvador e recôncavo em detrimento demais regiões. A memória da Educação na Bahia buscou sua projeção nacional estudando, por exemplo, Anísio Teixeira, educador baiano de projeção nacional que foi nosso secretário nas décadas de 1920 e 1950 deixando legados para a Educação nacional, a exemplo da nossa Escola Parque ainda hoje objeto de estudos por parte de historiadores da educação tanto baianos como brasileiros de uma maneira geral.
Além disso, o Projeto Memória, fiel à multicampia da Uneb, organizou-se em rede entre os pesquisadores da Educação da própria Uneb e de outras universidades públicas da Bahia, acolhendo uma visão geral do Estado, indo além da distorção historiográfica de considerar a Bahia representada apenas por Salvador e seu recôncavo. Assim, em1998, ao fim do primeiro ano do financiamento disponibilizado pelo CNPQ, o relatório elaborado registrava a articulação com professores pesquisadores de 10 unidades da UNEB sediadas no interior do estado entre as quais estavam as de Alagoinhas, Valença Teixeira de Freitas e outras.
Entretanto, vale ressaltar, que a nossa universidade ainda não soube incorporar aos currículos da Pedagogia a vasta produção da memória da educação na Bahia. Os avanços significativos da pesquisa não têm o devido rebatimento no ensino. A educação na Bahia chega aos currículos por meio de seminários temáticos, cursos de extensão e eventos acadêmicos (Colóquios e Seminários que ofertam minicursos) e não como conteúdo dos componentes curriculares obrigatórios.
Sobre as fotos: A primeira é uma foto do Sumário da segunda edição do livro Fontes para o Estudo da Educação no Brasil – Bahia , com imagens de Anísio Teixeira cujas ideias permearam as ações do Projeto Memória. O livro cuja é uma produção do historiador Luís Henrique Dias Tavares e sua segunda edição foi realizada pelo Projeto Memória em reconhecimento da essencialidade da obra.
A segunda foto é da capa do livro Experiências inovadoras na educação da Bahia: década de 60 produzido no Projeto Memória com relatos das experiências que constituíram seu objeto de estudo nos primeiros anos da sua trajetória.
Sobre a autora:
Alba é professora Titular da Universidade do Estado da Bahia e membro do Projeto Memória da Educação na Bahia desde a sua criação, em 1980.
Depoimentos de professoras parceiras e orientandas sobre a professora Jaci Menezes

Solicitada a dar um rápido depoimento sobre a profª Jaci Ferraz de Menezes, lembro quando em 2000 estava no processo de levantamento de bibliografia sobre a educação das camadas populares no Pós abolição, já utilizando a Internet, e a primeira indicação foi do seu nome.
Li depois seus vários artigos sobre a temática, expressão de seu pioneirismo no campo. De forma mais focada o “EDUCAÇÃO E COR-DE-PELE NA BAHIA – O ACESSO À EDUCAÇÃO DE NEGROS E MESTIÇOS”. Neste artigo, encantou-me seu uso fecundo do Censo de 1872; e neste, dos dados referentes as “categorias de cor” comparando-os com os do Censo de 1940, fechando este período histórico da Pós Abolição.
Em 2010 tive o prazer de conhecê-la mais pessoalmente, através de Elisabete Santana, e de participar de Bancas sob sua Orientação, ou nas quais fez parte; de eventos que organizou, sempre de forma dinâmica e motivadora. Envio como lembrança a nossa dupla presença na Defesa de Cândida Monteiro , da qual vai a foto.
Ione Celeste Jesus de Sousa
Conheci Jaci minha aluna, na Faculdade. Novinha ainda, muito inteligente, inquieta, corajosa, entrou de cabeça em todas as aventuras que propus. Aprendemos juntas naquela época. E no decorrer da vida também. Sou muito, muito agradecida por isso.
Dilza Atta
Tenho muita gratidão pelas aprendizagens diversas que me foram e são oportunizadas pela professora Jaci. Um ser humano de luz e paixão pelo que faz. Com quem se pode aprender sobre educar, ser educadora e pesquisadora e ao mesmo tempo aprender sobre a vida.
Edna Santos

Conheci a Profª. Jaci Menezes no ano de 2006, quando fui sua aluna no Mestrado, na UNEB/PPGEduC.
Nossa sintonia foi grande: o interesse pela memória da educação na Bahia, as pesquisas sobre as Escolas Normais, o olhar cuidadoso para a preservação dos documentos escolares, além da afinidade pessoal, pois quando estou próxima a ela, me sinto acolhida. Anos depois, já no doutorado, pude reencontrá-la com o mesmo jeito de ensinar, com generosidade, simplicidade e muito conhecimento.
Teria diversas histórias para contar, mas destaco os memoráveis Simpósios, Colóquios e Congressos do Grupo Memória, o qual coordena. Enfim, sou grata por sua atenção, carinho e companheirismo durante quase duas décadas de convivência. Sua contribuição na minha vida pessoal e profissional foi um divisor de águas.
Não canso de afirmar: a Profª Jaci é um ser especial nesse mundo.
Muita saúde e paz!
Cíntia Maria Luz Pinho de Souza
Conheci a Professora Jaci quando cursava uma disciplina como aluna espacial no mesmo Programa da UNEB, tentando entrar no Mestrado. Ao saber do tema da minha pesquisa, Jaci logo se interessou em me acompanhar nessa trajetória acadêmica. Durante o período que cursei o Mestrado, estivemos sempre unidas, ela mostrando-se atenciosa e disposta a ajudar nas pesquisas com sua paciência e tranquilidade que lhe faz uma pessoa especial.
Além de aluna e orientanda, tornei-me sua amiga e a admiro pelo seu empenho em preservar as pesquisas e os documentos relacionados à memória da Educação. Viajamos algumas vezes para Congressos e Colóquios, sendo esses momentos agradáveis e de muito aprendizado, como também foram o período que passei trabalhando no Grupo memória.
Conviver com a Professora Jaci foi para mim um grande presente, e só tenho a lhe agradecer tudo de bom que vivemos juntos. Obrigada Jaci, continue sendo essa pessoa maravilhosa!
Idália Maria Tibiriçá Argôlo


Minha palavra é de GRATIDÃO!
A sua produção intelectual chegou primeiro em minha trajetória profissional que a professora, a pessoa humana. Ao iniciar os meus primeiros passos na escrita da História da Educação na Bahia, ainda no latu sensu, tive contato com seus escritos, que muito me impulsionaram.
Na seleção para a primeira turma do mestrado (2000) a conheci pessoalmente. Lembro-me do seu sorriso e da acolhida que tive. Iniciava ali uma linda parceria não só intelectual, mas humana. Pró Jaci é antes de tudo ou acima de tudo, uma pessoa humana excepcional. É generosa, no sentido mais amplo dessa palavra. Sabe dosar “orientação acadêmica” com “liberdade e autonomia” dos seus orientandos, com singularidade.
Muito obrigada professora Jaci Maria de Ferraz Menezes, minha mentora intelectual no mestrado e no doutorado. Registro aqui minha admiração, estima e gratidão por tanto que fez por mim! Saiba que a tua forma de “segurar as canetas” e fazê-las escrever, não só a História da Educação, mas também a reescrever a história de tantas vidas, me inspira e me faz uma pessoa e uma profissional melhor!
Muito obrigada!
Abraços saudosos e agradecidos!!!
Leonice de Lima Mançur Lins

Querida Professora Jaci, este espaço se torna pequeno para expormos tamanha admiração, gratidão e carinho que dispensamos à senhora.
Sua trajetória, marcada pela preocupação com importantes questões humanas, como a democracia, associada à sua capacidade e postura profissional – ética, permitiu que tão bem conduzisse o seu trabalho docente.
Ao longo de quatro décadas, pôde desempenhar com maestria, a tarefa do ensino e pesquisa sobre os temas da democratização da educação, nas diversas épocas da história do Brasil e, sobretudo, da Bahia. Sempre nessa perspectiva, seu trabalho colaborou muito para fortalecer as políticas públicas – socioeducativas, no território baiano, além de promover, internamente em nós, seus orientandos, mestrandos e doutorandos, o conhecimento e sentimento necessários à inclusão social, a base da democratização da educação no nosso estado e país.
Por tudo, querida amiga, amada Jaci, receba o nosso carinho e palavras de gratidão.
Alda Quintino
Quer saber mais sobre o projeto Memória da Educação na Bahia e a professora Jaci Menezes ? Acesse os links abaixo:
Álbum trajetória da professora Jaci
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Exposição Projeto Memória da Educação na Bahia