O que sabemos sobre o final de carreira de nossos profissionais da educação ?

E P 3 /Edição de outubro

Produções de profissionais da educação na maturidade são fontes para nossa história da educação.

Pouco sabemos sobre o final de carreeira de nossos professores. Pesquisas pontuais trazem informações principalmente sobre professores que estão em atividade. Pouco dizem sobre aqueles que encerraram seu período de vida profissional “formalmente” ativa, razão pela qual a pergunta que abre a nossa página construída no dia 31 de outubro ficará sem resposta, pelo menos nessa edição. Reafirmamos que a resposta que almejamos alcançar refere-se, prioritariamente, aos professores do primeiro segmento do ensino fundamental que foram o objeto de nossa investigação durante toda nossa trajetória de pesquisa.

Nos dois episódios anteriores da edição do mês de outubro abordamos condições que, interferindo no contexto de trabalho dos professores, podem influenciar no processo de envelhecimento e no final de carreira desses profissionais .

Hoje, encerranmos nossa edição mensal trazendo exemplos do que denominamos de “produções de profissionais da educação na maturidade.”

Selecionamos algumas livros que consideramos “fontes” para o estudo da história da educação. São obras produzidas na “maturidade”, após atos oficiais de aposentação que não significaram um afastamento da vida ativa, pois seus autores continuaram contribuindo com a educação e em outros campos.

Consideramos as obras selecionadas verdadeiras preciosidades. Trazem o testemunho de pessoas que em seus processos de formação e em suas trajetórias profissionais viveram experiências únicas que decidiram registrar. Devidamente cotejados com outras informações, essses registros podem contribuir para ampliar o nosso conhecimento da história da educação da Bahia e do nordeste, uma vez que entre as obras que iremos apresentar se encontram as memórias de uma cearense.

Os professores Álvaro Zózimo e Francisco Sá Teles ex alunos da Escola Normal da Bahia contam em seus livros histórias de formação e trabalho

O professor Alvaro Zózimo, no livro Sempre a Serviço da Educação: Uma experiência de mais de 80 anos relata sua experiência como aluno da antiga escola primária iniciada na primeira década do século XX, sua passagem pela Escola Normal da Bahia, a partir do anos de 1924, aos 12 anos, quando foi matriculado no Curso Complementar da instituição e sua permanecência na “Velha Escola Normal, até 1931, quando recebeu o diploma de professor primário. Descreve ainda sua vida profissional apresentando relatos sobre o funcionamento de escolas onde realizou atividades de trabalho e setores de nossa administração educacional. Também professor de desenho, o professor Zózim incluiu no seu livro muitas ilustrações de sua prórpia autoria.

Um resumo de sua obra está disponível no PDF ementário livro de Alvaro Zozimo 3.

O livro Sempre a Serviço da Educação: Uma experiência de mais de 80 anos foi publicado, no ano de 1998, em uma parceria entre a Universidade do Estado da Bahia – UNEB e o Instituto Anísio Teixeira -IAT. Vide abaixo a folha de agradecimento em um exemplar da obra.

Capa do livro do professor Alvaro Zózimo

Foto do professor Alvaro Zózimo publcada no livro Sempre a Serviço da Educação: Uma experiência de mais de 80 anos

O livro Sempre a Serviço da Educação: Uma experiência de mais de 80 anos foi localizado no Instituto de Educação Isaias Alves – ICEIA, em 2012, em uma sala, que por iniciativa de uma professora, reunia materiais destinados à preservação da memória da instituição.

O professor Francisco de Sá Teles ao escrever uma nota explicativa em seu livro Subsídios à História da Pedagogia e da Educação na Bahia ( Recordações de um mestre escola) registra:

Sobre o presente trabalho é um misto de história e de depoimento vivencial do autor, no esforço de memoriar alguns dos momentos mais significativos da pedagogia e da educação básica em nossa terra. É, por outro lado, uma reformulação e ampliação de suas Recordações de um mestre escola publicado em edição preliminar pelo Centro Gráfico do Senado no ano de 1978.

Sua obra intitulada Notícia histórica da instrução na província da Bahia – 1836 -1936 também tem essas características. Mas, enquanto a anterior aborda um maior número de temas e momentos relacionados com a construção da escola primária, essa trata de modo mais amplo da política educacional e da criação e desenvolvimento da Escola Normal. As duas são fontes para conhecimento de nossa histórica da educação e trazem referências que podem guiar o pesquisador para novas descobertas

Capa do livro Subsídio à história da Pedagogia e educação na Bahia (Recordações de um mestre escola) publicado em sua segunda edição, em Brasilia , pelo Senado Federal.

Foto do professor Francisco de Sá Teles em seu livroSubsídio à história da Pedagogia e educação na Bahia (Recordações de um mestre escola).

As obras de Francisco de Sá Teles citadas neste texto foram localizadas na Biblioteca Pública do Estado da Bahia atual Biblioteca Central do EStado da Bahia.

Em dois livros a professora Dilza Atta registra momentos importantes da história da educação da educação na Bahia

O livro Educação na Bahia na gestão de Luiz Navarro de Britto (1967/1970) um depoimento é, principalmente, o relato de alguém que viveu intensamente a experiência narrada. do governo de Luís Vianna Filho. A autora, que participou da gestão do governo de Luís Vianna Filho, nos apresenta seu depoimento a respeito.

Trechos da obra nos dão uma ideia da densidade e qualidade do seu conteúdo. Ouça os áudios:

Dilza traz em seu depoimento algumas características da proposta de Navarro que atestam a sua crença em uma educação que ultrapassa os muros da escola, sem deixar de considerar a centralidade da educação escolar para a plena formação humana.

No livro Nas Barrancas do Velho Chico e outras viagens em caminhos desde sempre navegados Dilza evoca memórias da sua formação escolar e de costumes regionais presenciados e vivenciados por ela no interior da Bahia. Para os estudiosos da história da educação que sabem da importância de compreender o contexto onde a formação ocorre, o livro em sua totalidade é uma fonte de informações. Contudo, acredito que todos descobrirão um sabor especial com a leitura do capítulo A Educação Escolar na Bahia no século XX: memórias de uma sobrevivente de mais de dois terços de século.

Foto da capa do livro Educação na Bahia na gestão de Luiz Navarro de Britto (1967/1970) de autoria de Dilza Atta publicado pela Edufba, em 2023.

Reflexões que nos chegam do Ceará

memórias de uma professora na sua maturidade

Em três livros publicados, em 2020, 2022 e 2023, Aci Maia discorre sobre:

crescer, tornar-se adolescente e jovem; crenças da família na escolarização em seus diversos níveis; imposições da escola a respeito do que estudar e como se portar e vários outros temas.

A escritora não revela idade, profissão e outras características. É possível estar se apresentando sob pseudônimo. Temos certeza que suas obras são produtos de sua fase de maturidade e de um certo momento de “recesso” profissional. Uma anotação na orelha de Mar Aberto revela: Aci Maria vive entre Fortaleza, Porto e Cariri, onde se dedica às artes e flores, aos convívios e sonhos.

Passeando pelas páginas de Rebeldia inata, escrito em 2022, descobrimos que viveu a adolescência em tempos de ditadura. Em outro livro, ficamos sabendo que por volta dos dezoito anos passou por um vestibular e, certamente, cursou a universidade. Suspeitamos que tenha sido uma professora. As referências e críticas ao sistema educacional, à imposição de temas para a redação, à obrigatoriedade de estudar disciplinas pelas quais não tinha atração indicam um conhecimento “por dentro” das questões e contradições de nossa educação.

Suas obras são fontes para o estudo da história da educação, da sociologia e da psicologia do desenvolvimento nas etapas da infância e da adolescência. É interessante observar como, desde menina, se coloca contra o preconceito racial. Confira, lendo aqui o texto A amiga proibida PDF .

O livro Mar Aberto foi publicado, em 2023, em Fortaleza pela Gráfica LCR

Infância Secreta e Rebeldia Inata foram publicados pela INTERARTE, Fortaleza, respectivamente, em 2020 e 2022.

E PARA FINALIZAR NOSSA HOMENAGEM AOS MESTRES DE ONTEM E DE HOJE …

RELEMBRAMOS O QUE SÁ TELES E RUBEM ALVES DISSERAM SOBRE O TRABALHO DOS PROFESSORES

Foto de Rubem Alves no texto O homem que queria ensinar as crianças. Carta capital, 2/09/2014.

Para ler o texto completo, acesse https://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-homem-que-%E2%80%A8queria-ensinar-%E2%80%A8as-criancas/

Sobre a alegria de ensinar em Rubem Alves

Muito se tem falado sobre o sofrimento dos professores.

Eu, que ando sempre na direção oposta, e acredito que a verdade se encontra no avesso das coisas, quero falar sobre o contrário: A alegria de ser professor, pois o sofrimento de se ser um professor é semelhante ao sofrimento das dores do parto: A mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho.

Reli, faz poucos dias, o livro de Hermann Hesse, O jogo das contas de vidro. Bem, ao final, à guisa de conclusão e resumo da história, está este poeminha de Rückert:

Nossos dias são preciosos

mas com alegria os vemos passando

se no seu lugar encontramos

uma coisa mais preciosa crescendo:

uma planta rara e exótica,

deleite de um coração jardineiro,

uma criança que estamos ensinando,

um livrinho que estamos escrevendo.

Este poema fala de uma estranha alegria, a alegria que se tem diante da coisa triste que é ver os preciosos dias passando… A alegria está no jardim que se planta, na criança que se ensina, no livrinho que se escreve. Senti que eu mesmo poderia ter escrito essas palavras, pois sou jardineiro, sou professor e escrevo livrinhos. Imagino que o poeta jamais pensaria em se aposentar. Pois quem deseja se aposentar daquilo que traz alegria? Da alegria não se aposenta […].

Transcrição da páginas 6 e 7 do livro A alegria de ensinar de autoria de Rubem Alves, ARS POETICA EDITORA LTDA, 1994. Disponível em Pdf em A Alegria de Ensinar (ufc.br)

Foto da página do livro Subsídio à história da Pedagogia e educação na Bahia (Recordações de um mestre escola) de autoria de Francisco de Sá Teles

Para melhor compreender as mensagens que se desejou transmitir a partir do conteúdo veiculado nesta página, convidamos você a visitar ou revisitar os posts da edição de outubro em homenagem ao dia 15. Acesse o título dos quadros abaixo .

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