EXPOSIÇÃO NOVEMBRO 2023 -EP-1.
Em destaque : Foto no texto Google homenageia médico negro baiano que revolucionou a psiquiatria publicado em 06/01/2021, em VERMELHO a esquerda bem informada.
Disponível em: https://vermelho.org.br/2021/01/06/google-homenageia-medico-negro-baiano-que-revolucionou-a-psiquiatria/. Acesso em 15 nov.2023.
Você já ouviu falar do médico negro baiano, Juliano Moreira ?
O QUE SABEMOS SOBRE ELE ?
No dia 10 de outubro do corrente ano, dia Mundial da Saúde Mental, através da professora Josiane, professora do Instituto Magister, tomamos conhecimento de vários aspectos da vida de Juliano Moreira. A partir de então, descobrimos inúmeros estudos sobre sua vida e obra. O vídeo produzido por Josiane nos inspirou a refletir sobre como a escola da Bahia, do fim do Imperio, teria contribuído para formar um negro de tão grande sucesso em sua vida profissional.
Assista o vídeo e entenda o que nos instigou a buscar algumas informações em torno da formação básica de Juliano, antes da sua entrada na Escola de Medicina da Bahia.
Vídeo Juliano Moreira: Conheça essa grande história. Instituto Magister. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=frFSqO_XOfc&t=797s . Acesso em: 15 nov.2023.
A formação básica de Juliano Moreira, entre o seu nascimento, em 1873, e a entrada no curso de Medicina, em 1886, aos 13 anos.
Os vazios de informação sobre a formação educacional de Juliano Moreira
As muitas histórias sobre a vida de Juliano Moreira não trazem informações sobre frequência à escola primária. Quanto à formação inicial, as histórias pontuam o ensino secundário no Colégio Pedro II e a posterior admissão no Liceu Provincial, futuro Ginásio da Bahia, depois, Colégio Central. Nada falam sobre a sua frequência a uma escola primária. Quando se estuda personalidades a tendência é voltar os olhos para suas produções e desempenho profissional, os inícios da formação ficam um tanto escondidos.
Portanto, só podemos conjecturar sobre os primeiros anos de aprendizagem de Juliano Moreira partindo de informações sobre a educação na Bahia na década de nascimento do médico.
Presidentes da Província e Diretores da Instrução Pública apontam em relatórios a insuficiente quantidade de escolas em relação ao número de crianças que deveriam ser escolarizadas . Por outro lado, as crianças pobres e negras enfrentaram grandes dificuldades para frequentar a escola primária como relata a Doutora Ione Sousa que estudou as características da escolarização do povo no fim do Império (Vide Capa, ficha catalográfica e resumo da tese de Ione Sousa)
Vários relatos indicam que as crianças que se tornaram livres pela Lei do Ventre Livre, promulgada em 1871, conviveram com dúvidas sobre o seu direito de acesso à educação.
De acordo com biógrafos, Juliano Moreira teve uma escolarização diferenciada por conta do seu padrinho e protetor, o médico e professor Adriano Lima Gordilho, segundo Barão de Itapuã. Mas faltam respostas sobre o início de sua formação educacional. Será que frequentou uma escola primária pública ou particular do disitrito da Sé onde nasceu? Foi alfabetizado na casa do ilustre padrinho? Teve preceptores particulares na sua formação incial? Sua mãe sabia ler e escrever? Teria participado de forma mais direta na aprendizagem de leitura e escrita do filho?
A formação de Juliano Moreira no ensino secundário
Os biógrafos registram a presença de Juliano Moreira no colégio Pedro II e no Liceu Provincial. Na fala do Presidente da Província do ano de 1874 o Colégio Pedro II é mencionado entre os que atendiam a meninos. Pouco se sabe sobre esse estabelecimento. Até o momento, encontramos apenas dados sobre matrícula e localização.
Página da Fala do Presidente da Província da Bahia do ano de 1874 apresentando a relação de escolas de meninos existentes, em Salvador, com indicação dos diretores.

Antonio Candido da Cruz Machado, 1874.
Página de relatório do Presidente da Província Bahia do ano de 1875 com dados de matrícula do colégio Pedro II

Fonte: Luiz Antonio da Silva Nunes, 1879.
Página de Fala de presidente da província ano de 1877 com dados de matrícula, direção e localização do colégio Pedro II

Henrique Pereira de Lucena, 1877
Fachada do prédio do Solar Berquó onde funcionava o colégio Pedro II quando Juliano Moreira foi aluno

Solar Berquó. Imagem do Google publicada na página https://www.ipatrimonio.org/salvador-solar-do-berquo/. Acesso em: 15 nov. 2023
O Solar Berquó (Bercó) onde funcionou o Colégio Pedro II situa-se no sopé de uma das ladeiras que conduz à Baixa do Sapateiros, a antiga Rua da Vala, na cidade de Salvador, Bahia. Foi, também, sede por quase 100 anos do Colégio São Salvador.
Página da Lei de Reforma da Instrução Pública do ano de 1873 indicando os caminhos para matrícula no Liceu Provincial que ministrava o ensino secundário.

Fonte: BAHIA. Leis e resoluções da Assembléia Legislativa da Bahia do ano de 1873. Tipografia Correio da Bahia.1873
São pouco claras as referências sobre a vinculação de Juliano Moreira ao colégio Pedro II e ao Liceu Provincial. A esse respeito sugem muitas interrogações: Em que condição de matrícula se deu a vinculação de Juliano Moreira ao Liceu? Ele frequentou regularmente o curso de bacharel em ciências? Foi preparado fora da escola e se apresentou para exames no Liceu? De acordo com a legislação vigente a partir de 1873, ele poderia matricular-se no curso de bacharel (Ciências ou letras), em aulas avulsas das diversas disciplinas ministradas no Liceu como forma de preparação para concorrer ao ingresso em um curso superior. Um outro caminho poderia ainda ser o de fazer aulas avulsas em outro local e, após exames no Liceu, matricular-se em qualquer um dos anos do curso de bacharel ministrado na instituição.
Qual terá sido o caminho escolhido por Juliano Moreira? Sendo o Colégio Pedro II, uma escola particular que ministrava o ensino secundário, é possível que nela tenha sido submetido a uma rigorosa preparação, antes de se apresentar para exames no Liceu.
Alguns colégios particulares ministravam o ensino secundário, mas tinham classes primárias anexas. Seria esse o caso do Pedro II ?
O ensino particular gozava de liberdades, um diferencial em relação ao ensino público, que talvez estivesse mais “amarrado” e mais fiscalizado. (Veja abaixo artigo da Lei de reforma vigente a partir de 1873)

Fonte: BAHIA. Leis e resoluções da Assembléia Legislativa da Bahia do ano de 1873. Tipografia Correio da Bahia.1873
Qual a origem da proficiência de Juliano Moreira em língua estrangeira?
Na voz de Josiane, no vídeo apresentado no início da exposição, fomos informados que Juliano Moreira era :
Fluente em franacês, espanhol, alemão e Inglês.
Em inglês a sua fluência era tão perfeita que passou a ser comparado a um verdadeiro cidadão inglês culto.
O futuro médico conviveu desde a infância com um padrinho que viajara ao estrangeiro. Conforme notas biográficas o dr Adriano, depois de formado na Escola de Medicina da Bahia, realizou cursos na Europa. Portanto, Juliano conviveu em tenra idade com um brasileiro que dominava línguas estrangeiras.
Além disso, preparar-se para os exames realizados no Liceu significava o estudo de línguas como determinado na lei de reforma da instrução de 1873 que considerava obrigatório no curso secundário o ensino de latim, grego, francês e inglês. Colaborou, também, para a proficiência do médico em inglês o fato de Dr Antônio Augusto Guimarães, diretor do colégio Pedro II, ter sido um professor partircular do idioma, conforme demonstra Ione Sousa em sua tese de doutorado (Vide pdf Foto da página 89 da tese de Ione Sousa com o título de Escolas ao povo…).
CONCLUSÃO:
Sem dúvida, o sucesso profissional de Juliano Moreira teve uma de suas bases na formação recebida entre o nascimento e os treze anos de idade, quando: uma mãe solo percebeu a vantagem do filho contar com um protetor; um padrinho assegurou e articulou uma rede de convívio estimuladora da aprendizagem ; um estudante esteve determinado a aprender e foram colocados a sua disposição recursos de ensino -aprendizagem qualificados.
O que seria interessante investigar é como atuaram os recursos oriundos do colégio Pedro II, do Liceu Provincial e de professores particulares e como esses três vetores se articularam no processo de formação de Juliano nos seus primeiros treze anos de vida.
É claro que as experiências de formação vivenciadas no curso de medicina e no início da vida profissional consolidaram as bases iniciais e possibilitaram a construção de novos pilares.
CRÉDITOS DA EXPOSIÇÃO: EXPOSIÇÃO ELABORADA PELAS EDITORAS DO BLOG, UTILIZANDO FOTOS DO ACERVO DO GPEC E DE OUTRAS FONTES.