Exposição escolar dez./ 2021

Uniformes das escolas primárias na Bahia, na década de 1920

Esta exposição refere-se à socialização de algumas fotografias que retratam os uniformes escolares dos discentes e docentes das escolas primárias na Bahia na década de 1920.

A intenção é contribuir para a compreensão da materialidade histórica da cultura escolar a partir de um olhar sobre as formas de se vestir em determinado tempo e espaço.

“O modo de trajar das pessoas é uma prática cultural que retrata valores,  condutas e outras tantas características de distintos segmentos sociais. A maneira de vestir revela, até mesmo, traços da individualidade, porém o vestuário é sempre uma construção de uma cultura e de uma época.” ( SOUSA, 2020, p. ).

Um exemplo de uniforme escolar para órfãos em escolas confessionais

Fotografia 1

Os cinco primeiros alunos do Colégio Liceu Salesiano(1897) em Lima (2000, p.38).

A fotografia 1 mostra os cinco primeiros alunos órfãos da Guerra de Canudos e dois padres salesianos em 1897.

Os alunos estão devidamente uniformizados com uma calça, uma blusa de mangas até as mãos, de cor marrom cinzenta. A frente da blusa é fechada por quatro botões, usam meias brancas e sapatos pretos.

O uniforme em escolas primárias públicas do estado da Bahia

Fotografia 2

Escola primária de Wagner em Teixeira (1928, p. 42).

Fotografia 3

Escolas Reunidas da Rua do Poço na Capital em Teixeira (1928, p. 26.).

Fotografia 4 – Escola de Porto Novo do Corrente, Bahia em Teixeira (1928, p. 15).

Nota-se nas fotografia 2, 3 e 4 haver entre as indumentárias das alunas, alunos e professores dessas escolas primárias o mesmo padrão quanto ao tipo e características das peças que compõem o uniforme escolar, bem como, semelhanças nas disposições e posturas dos corpos retratados. As vestimentas tanto dos discentes como dos docentes das três escolas públicas primárias contém, de maneira geral, os mesmos itens, ou seja, as mesmas saias, blusa de mangas, cinto, gravata borboleta (fotografia 3) e sapatos fechados para as alunas; o mesmo vestido longo, meias e sapatos fechados para a professora; e calças, camisa, paletó, gravata e sapatos fechados para os alunos e os professores. Os corpos estão cobertos em sua maior extensão, característica esta presente nos vestuários retratados nas fotografias de escolas em regiões de climas quentes ou frios.

Fotografia 5 – Diplomados da Escola Reunidas de Alagoinhas em Teixeira (1928, p.36).

A fotografia 5 de alunos de uma escola reunida mostra um aspecto extremamente relevante do período estudado, a presença em um mesmo prédio de meninas e meninos, mesmo havendo separação de salas e de outros ambientes.

Fotografia 6 – Alunas e professoras da primeira Escola Pública Primária dos Mares. Revista Renascença. 1919.

A fotografia 6 representa o corpo discente da primeira Escola Pública Primária dos Mares, acompanhado das dirigentes e adjuntas. Entre as adultas, está a professora catedrática, senhora Euphrosina Miranda, a segunda da esquerda para a direita, que teve destacada atuação em Salvador na área de ensino e na literatura. O evento que propiciou a produção da fotografia era festivo, tratava-se da exposição escolar realizada anualmente ao fim do ano letivo.

As meninas retratadas não aparecem de uniformes, e sim com indumentárias, provavelmente, escolhidas para um dia especial, que também exigia cuidado diferenciado com os penteados, vários dos quais incluem enfeites nos cabelos. Percebe-se em relação na disposição das meninas que um grande número de crianças consideradas brancas ou pardas está colocada na frente, as de pele mais escura estão posicionadas mais atrás, no ponto superior da escadaria.

A militarização dos uniformes escolares

Fotografia 7 – Alunos da escola estadual de São José da Motta em Teixeira (1928, p. 50).

Fotografia 8 – Grupo geral dos alunos internos do Colégio Liceu Salesiano (1927) em Araújo (1983, p.63).

Nas fotografias 7 e 8 das escola pública do sexo masculino São José da Motta e do Colégio Liceu Salesiano da Bahia, do final da década de 1920, os uniformes se assemelham às fardas dos soldados do exercito e da marinha da época, sobretudo, pelas formas dos chapéus e da cor dos tecidos da indumentária. Do lado direito, em ambas as imagens, tem alguns alunos em pé e suas posições permitem ver melhor os detalhes de suas fardas: calça, blusa de manga e o chapéu. Nas fotografias os itens que compõem os uniformes dos alunos traduzem um pouco a sociedade e seu projeto de civilidade e patriotismo, e, ainda, traz informações que ajudam a entender a separação da escola por sexo.

O uso dos recursos da caixa escolar na aquisição de uniformes

Fragmento de relatório de Meirelles (1927, p. 11)

O Decreto n. 4.218, de 30 de dezembro de 1925, que regulamenta a Lei n. 1.846, de 14 de agosto do mesmo ano, em seu artigo n. 378 prescrevia que a caixa escolar incrementaria a frequência e entre os meios elencados consta na legislação a prescrição da distribuição de roupas e calçados com os recurso arrecadados .

O Relatório Anual apresentado pelo Inspetor Escolar Professor Orlando de Meirelles da 5ª Circunscrição da Comarca de Juazeiro, em maio de 1927, traz informações muito importantes sobre criação de Caixas Escolares e sobre medidas que tentavam favorecer a frequência, sobretudo, dos menos favorecidos economicamente lhes disponibilizando uniformes escolares.

O relatório de Elio B. S. Mello intitulado Relatório anual da seção de ensino primário da 11ª circunscrição – sede na Comarca de Jequié, ano de 1927, ao se referir à caixa escolar da circunscrição da qual era o responsável deixa explicito como foram usados os recursos desta caixa. A maioria dos itens citados no balancete eram de peças de um uniforme escolar.

Fragmento do relatório manuscrito de Elio B. S. Mello (1927)

Os relatórios de Meireles e Mello, ambos publicados no ano de 1927, demonstram a ampla preocupação com a aquisição de uniformes escolares, mesmo sendo um item que, neste período só foi prescrito legalmente para uso obrigatório, apenas, para as normalistas. Consta essa prescrição legal no decreto n. 4.218, em seu artigo n. 468 que diz : “Para frequentar o estabelecimento e em todos os atos escolares, os alunos usarão um uniforme cujo figurino dependerá da aprovação do diretor da escola.”.

Vestimenta e aparência dos alunos nas fotos do Abrigo dos Filhos do Povo

Uma escola fundada por proletários, moradores da Estrada das Boiadas, para garantir o direito da frequência escolar para os filhos de trabalhadores

O Abrigo foi fundado em 03 de março de 1918, a data da fundação refere-se aos primeiros donativos financeiros aportados como uma subscrição popular destinada a iniciar as obras. E suas escolas foram inauguradas no dia 11 de julho de 1918. A escola começou com 250 crianças. Os fundadores, os senhores Raymundo Luis dos Santos Frexeiras, Fructuoso dos Santos, Fortunato Ferreira da Fonseca e Ladislau Victor das Virgens, assim como os seus alunos eram homens, meninas e meninos pobres, pretos, proletários e filhos destes. ( SOUSA, 2012).

Quando as fotos são de escolas ligadas a filantropia é possível observarmos que as vestimentas, mesmo sendo vestidos, ou saia e blusa para as meninas, calça para os meninos, não se apresentam completas, inclusive na extremidade esquerda da fotografia 13 há a presença de uma criança descalça. Nestes casos as características das vestimentas ou a falta de itens denunciam as condições de pobreza da população negra.

Fotografia 9 – Alunos das escolas do Abrigo na frente do prédio no dia da inauguração em Frexeiras (1921, p. 201).

Fotografia 10 – Os alunos do sexo masculino do Abrigo na frente do prédio em Frexeiras

(1921, p. 290).

Fotografia 11 – Os alunos do sexo feminino do Abrigo na frente do prédio em Frexeiras (1921, p. 291).

Fotografia 12 – Alunos das dez escolas do Abrigo dos Filhos do Povo em Barbosa (1924, p. 119).

Fotografia 13 – Alunos das escolas nº. 1, 3 e 6 do Abrigo dos filhos do Povo em Barbosa (1924, p.59).

Fotografia 14 – Alunos do Abrigo dos Filhos do Povo em Frexeiras (1921, p. 276 e 277).  

A fotografia 14 corresponde as imagens de dois alunos, Simão Alves de Sousa e Durvalina Povêda Sanches, da Escola Abrigo dos Filhos do Povo. As fotografias destes discentes são representativas dos 32 alunos que tiveram seus textos publicados no livro de autoria do fundador desta escola filantrópica.

A intenção em publicar os escritos dos estudantes era comprovar o aproveitamento escolar, desta forma, validando que a proposta da escola tinha se efetivado. Essa unidade de ensino visava garantir a frequência escolar dos filhos do povo, as crianças, filhas de proletários, considerada “desvalidas” pelos fundadores da escola.

Até 1918, ano da fundação da unidade escolar, não havia escola primária pública nesta localização, antiga Estrada das Boiadas, hoje denominado bairro da Liberdade.

PALAVARS QUE CONTINUAM

O vestir cerca-se de vários significados em diferentes tempos e espaços. Pensar as narrativas visuais inscritas nas simbologias dos uniformes escolares e na disciplinarização dos corpos de discentes e docentes das escolas primárias nos permitiu compreender que tais indumentárias conformam, junto às pessoas, regras, disciplina, padrões e valores sociais e possibilita entender a escola e suas práticas. A partir dos uniformes escolares levantamos algumas reflexões sobre o contexto, a visão de mundo e o projeto de sociedade presente na década de 1920 no estado da Bahia. Sendo assim o uniforme enquanto símbolo da cultura escolar inculcou junto as crianças as ideias de civilidade, patriotismo, tentou equiparar e nivelar através de um indumentária padrão as diferenças sócio econômicas, mas também, desvelou através da simplicidade e complexidade dos seus conjuntos quais e onde estavam situadas as populações vitimas dos aprofundamentos das desigualdades na Bahia. Estudar os vestuários uniformes possibilitou vislumbrarmos, de certa forma, como o currículo oculto incorporam ao imaginário das pessoas as práticas culturais. Essa exposição, de certa forma, é um convite para continuarmos olhando para as narrativas visuais e desvelar outros conhecimentos sobre nossa sociedade, cultura a partir dos uniformes escolares.

PARA SABER MAIS SOBRE OS UNIFORMES ESCOLARES NA BAHIA ACESSE AQUI O TEXTO-PROVOCAÇÃO O uniforme escolar na Bahia na década de 1920

CRÉDITOS

Seleção das imagens e organização da exposição: Ladjane Alves Sousa

Fonte das imagens e textos: Acervo da autora e do GPEC levantados em diferentes centros de documentação e preservação da memória da cidade de Salvador do estado da Bahia

Edição : EDITORAS DO BLOG MODOS DE FAZER EDUCAÇÃO NA BAHIA

SOBRE A AUTORA

Para saber mais sobre Ladjane Alves Sousa acesse:

O texto – provocação O uniforme escolar na Bahia na década de 1920 ;

A Pataforma Lattes usando o link http://lattes.cnpq.br/3878533833067321 ;

Ou a página O Blog, as editoras e compromissos com o link https://modosdefazer.org/wp-admin/post.php?post=236&action=edit&calypsoify=1

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