A exposição professores baianos faz parte de uma proposta maior do GPEC que é a construção de um catálogo. A composição do catálogo Um olhar sobre a escola primária na Bahia é uma proposta que nasce do contato com os documentos, através das pesquisas para produção de monografias, dissertações, artigos e publicações de obras de referências. E, tem como intenção a elaboração de ementários acompanhados de fotos e imagens que cumprem a função de revelar, muitas vezes, os aspectos não aparentes nos documentos escritos.
A proposta é fomentar reflexões que ampliem as discussões sobre: participação das educadoras na construção da escola; presença de educadores e professores negros na escola primária; contribuições para o deslocamento do olhar para os sujeitos comuns que figuram no cenário educacional baiano; participação dos professores nos debates educacionais de sua época, entre outros.
A exposição Educadores Baianos do Império à República é uma exposição que será apresentada em várias edições construídas a partir de peças documentais levantadas por grupos de pesquisa e pesquisadores associados ao nosso Blog, bem como de material dos arquivos digitais do GPEC.
Nessa primeira exposição (PARTE 1) iremos destacar a presença de alguns professores negros que atuaram na escola primária e na Escola Normal no início da República.
EDUCADORES NA EXPOSIÇÃO –Parte 1
Cincinnato Ricardo Pereira da Franca
A trajetória desse ilustre intelectual, abolicionista e educador baiano, é marcada pela defesa da educação pública, manifestada ao longo da sua carreira docente e militância política.
Filho de Umbelina Franca das Neves, Cincinnato nasceu em 17 de janeiro de 1860 em São Thiago de Iguape, Freguesia de Cachoeira, localizada na região do Recôncavo Baiano. Em 1882, aos 22 anos de idade, foi diplomado como aluno mestre pelo Externato Normal de Homens da Bahia. Aos 26 anos de idade ele foi nomeado professor primário na cidade de Cachoeira, em 1886, para reger a primeira cadeira masculina da freguesia de Nossa Senhora do Rosário, primeira freguesia de Cachoeira.
Abolicionista de destaque no cenário baiano, Franca, durante seu exercício no magistério, também ministrava aulas no curso noturno para pobres e adultos que não puderam estudar nas escolas primárias em sua fase de idade escolar. De acordo com Ione Sousa (2006) em abril de 1887 foi criada por Cincinnato uma escola noturna em Cachoeira para instrução de libertos, ingênuos, ex – escravos, escravos, ou seja, para a classe pobre. Como mostra Costa (2007, p. 127-128), “Era comum haver dentro do raciocínio dos que defendiam a abolição uma correlação de ideias entre liberdade e instrução reconhecendo esta como instrumento de integração à sociedade”.
Cincinnato Franca, homem negro, foi um participante ativo do processo abolicionista de Cachoeira, local de relevante importância econômica e política da região do Recôncavo, uma das mais populosas cidades do estado da Bahia. Defendia a educação, trabalho e instrução do povo como bandeira para a formação de cidadãos autônomos. Militou ao lado de reconhecidos abolicionistas baianos como Eduardo Carigé, Diogo Vallasques e outros. Considerava a a educação como a alavanca do desenvolvimento da nação e a escravidão um impasse para o crescimento do país.
FONTE: MONTEIRO, Cândida P. dos Santos. Para uma história dos grupos escolares na Bahia: A trajetória do grupo escolar Rio Branco (1905 a 1929). Dissertação. Salvador – UNEB, 2017.

Alipio Correia da Franca

Foi um grande educador, escritor, tradutor de obras com atuação de destaque no cenário educacional baiano, sendo um dos pioneiros na introdução das inovações educacionais na Bahia.
Sua formação escolar se deu entre o fim do Império e o início da República, ou seja, ele viveu sua formação escolar, justamente no período de maior divulgação da crença do poder da educação para modernizar a sociedade, instaurar a nova ordem e alcançar o progresso. (SILVA, 2013). Formou-se aluno mestre em 1895. Entre os anos de 1889, 1900, 1901 e 1903 atuou como lente da Escola Normal da Barra, no interior da Bahia Já em 1908 ocupa a cadeira de Pedagogia e Metodologia do Instituto Normal da Bahia.
São de sua autoria as obras: Memória Histórica: Escola Normal da Bahia – (1836-1936); Noções de Pedagogia Experimental; Noções de Metodologia e Organização Escolar; Metodologia e Didática da Escola Nova; O Jardim de Infância. Traduziu a obra da Dr. Maria Montessori, O método da Pedagogia Científica: Aplicado a Educação Infantil da casa dos meninos.
FONTE: SILVA, Ilma N. Soares. As competências necessárias ao professor primário no compêndio Noções de pedagogia experimental do professor Alipio Franca, 1915. Monografia. Salvador – UNEB, 2013.
Deoclecio Silva
Em julho de 1913 participa do 3º Congresso Brasileiro de Instrução primária e secundária, com a tese intitulada Qual dos modernos processos de ensino o que mais distancia o ensino da língua vernácula do ensino da gramática? Nesse mesmo ano publica na capa do Jornal de Noticias na edição de 16 de janeiro o artigo Educação dos sentidos e na edição de 23 de janeiro outro artigo intitulado A educação moral.
Nas Conferências Pedagógicas de 1915, o professor Deoclecio apresentou a tese nº 20 Quais os esportes ou exercícios físicos mais salutares e convenientes á educação da infância, atendendo ás nossa condições mesológicas e além da ginástica escolar em uso entre nós? Seu trabalho foi aprovado por unanimidade. Deoclecio Silva atuou como colaborador do Jornal Correio de Aracaju, contando com um artigo publicado e intitulado “O saber ler e o escrever”, na edição de nº 532, datada de 05 de março de 1911, além de figurar entre os professores da Escola Normal e Caetité, no ano de 1897, atuando na cadeira de Desenho. (Ao lado, Deoclecio Silva em foto de 1913).
Fonte: Pesquisa das autoras da exposição em documentos do acervo GPEC.


Manoel Theotimo de Almeida
Foi professor e delegado escolar na 2ª circunscrição, do Distrito de Nazaré em Salvador. Aposentando-se em 26 de janeiro de 1925 após trinta anos de serviços públicos. Atuou em 1892 e 1893 como redator da Revista do Ensino Primário discorrendo sobre temas como: inspeção escolar, provimento de cadeiras, analises de programas e horários das escolas primárias. Diante da importância dos serviços prestados por Manoel Theotimo, mereceu homenagens publicadas em revistas de circulação entre o professorado primário, homenageando-o pelos trabalhos desempenhados ao longo dos anos no magistério público.
FONTE: Almanak Laemmert Administrativo, Mercantil e Industrial, Rio de Janeiro, 1924.
Alberto Francisco de Assis
Adjunto da escola complementar da Escola Normal da capital. Foi nomeado como delegado do primeiro distrito escolar, que abrangia na época, as comarcas de Mata de S. João, Maragogipe, Cachoeira e Santo Amaro. Natural da cidade de Cachoeira (BA) nasceu em 1889, falecendo em 1950. Formou-se em Direito e Pedagogia, atuou como Diretor do Instituto Baiano de Ensino, aluno mestre da Escola Normal foi um dos diretores da Revista do Ensino ao lado de Hugo Baltazar e Álvaro da Franca Rocha. Foi líder nas campanhas de educação e assistência aos cegos, escreveu o livro “O cego em face da Medicina, do Direito e da Pedagogia”, fundou em 1933 o Instituto de Cegos da Bahia, onde atuou como diretor por treze anos. O instituto de Cegos da Bahia nasceu do desejo do Professor Alberto Assis de acolher e amparar os deficientes visuais em um espaço onde recebiam instrução, viviam e trabalhavam.
FONTE: Damasceno, 1998; Revista do Ensino, 1925.

Francelino do Espírito Santo de Andrade

Professor negro, dedicado a instrução primária popular na cidade de Salvador. Atuou como professor de gramática no ensino primário, foi Delegado Escolar da 5ª circunscrição, do Pilar; membro do Conselho Superior de Educação, escrevia para duas revistas de circulação nacional. Por diversas vezes se apresentou publicamente como “homem de cor” e defendia a necessidade de inúmeros melhoramentos na instrução pública primária, e na Conferência Pedagógica de 1913 fez parte da solenidade de abertura ao lado de outros professores ilustres como Cincinnato Franca.
FONTE: Santos, Silva, Reis Santos, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/agora/article/view/30970. Acesso em: 17 Dez. 2020.
Elias de Figueiredo Nazareth
Substituindo Pedro da Luz Carrascosa, Elias de Figueiredo Nazareth foi nomeado diretor da Escola Normal da Bahia em 6 de abril de 1912, onde ficou até novembro de 1921 quando veio a falecer. Foi Lente de História Universal da Escola Normal da Bahia, professor de práticas de métodos no Externato Normal de Homens e enquanto diretor foi responsável por desenvolver duas grandes reformas: a Lei nº 1051 de 18 de agosto de 1914 que reestabeleceu cadeiras antigas e mudou o título do então “Instituto Normal” para “Escola Normal da Bahia” como de origem; e a Lei nº 1293 de 9 de novembro de 1918 que aumentou a quantidade de anos letivos, desdobrando cadeiras, melhorando os aspectos temporais e didáticos do curso normal.
FONTE: Diário Oficial do Estado, Edição Especial do Centenário.

Pedro Luiz Celestino


Nasceu em Salvador em 1854. Estudou na Faculdade de Medicina da Bahia, ao lado de Pedro da Luz Carrascosa, sendo Lente substituto de psiquiatria e moléstias nervosas em 1909, além de ser Lente de física e química na Escola Normal. Assumiu interinamente o cargo de vice-diretor da Escola Normal no início de novembro de 1921 quando do falecimento de Elias Figueiredo Nazareth. Nomeado diretor efetivo pelo decreto de 8 de novembro de 1921, ficou em exercício até 6 de janeiro de 1923 quando veio a falecer subitamente.
FONTE: Diário Oficial do Estado, Edição Especial do Centenário.
Leopoldino Antonio de Freitas Tantú

Leopoldino Antonio de Freitas Tantú, nascido em 1853, Tantú formou-se em Farmácia pela Faculdade de Medicina da Bahia, 1872. Em 1923, reassume a vice direção da Escola Normal com a morte do Professor Pedro Celestino. Vale ressaltar que anteriormente, em 1901 Tantú havia sido nomeado para o cargo de vice-diretor em substituição da professora Maria Augusta de Carvalho, permanecendo no cargo até o dia 31 de outubro de 1902, quando exonerou-se. Atuou como Lente Catedrático de Matemática no Instituto Normal. Foi conselheiro por cinco legislaturas e Intendente Municipal Interino de Salvador de Dezembro de 1905 a Dezembro de 1906.
FONTE: Diário Oficial do Estado, Edição Especial do Centenário.
José Francisco de Sá Teles
Nasceu em Várzea do Caldas – Seabra, BA em 1915 e faleceu em setembro de 2010. Sua formação educacional é extensa. Formou-se no Instituto Normal da Bahia em pedagogia pela faculdade de filosofia da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Fez diversos cursos fora do país.
Com uma trajetória extensa no cenário educacional, Sá Teles, foi professor da escola pública; atuou no Instituto Normal da Bahia como professor de Didática Geral, também foi professor do Colégio Normal Estadual Presidente Costa e Silva, Colégio Normal da Soledade; inspetor de ensino, superintendente do ensino elementar do Estado da Bahia; professor da Faculdade Católica de Filosofia – UCSAL e da Faculdade de Filosofia – UFBA. Atuou em cursos de formação além de promotor e coordenador de vários encontros educacionais nos municípios de Ipiaú-BA, Riachão do Jacuípe-BA, Cruz das Almas-BA, Itapetinga-BA e Caetité-BA; secretário da Coordenação do MEC da Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático – CELTED, 1968-1969; assessor de diretor do Departamento de Educação Primária, 1970; gerente do Projeto de Treinamento e Aperfeiçoamento de Pessoal – MEC, 1971-1972; assessor técnico do Ministério da Educação e Cultura nos estados do Acre, Pará, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, 1972-1973; Ainda exerceu mandato de deputado estadual pelo Partido Trabalhista Nacional – PTN, 1959-1963. Com diversas obras publicadas, dentre elas destacamos Subsídio à História da Pedagogia e da Educação na Bahia, 1989.
FONTE: Disponível em: http://www.al.ba.gov.br/deputados/ex-deputado-estadual/5000323. Acesso em 27/12/2020.

…………………………

Cincinnato Franca, Alipio Franca, Deoclecio Silva, Manoel Theotimo, Alberto Assis, Francelino de Andrade, Elias Nazareth, Pedro Celestino, Leopoldino Tantú e Sá Teles são alguns dos “homens de cor” que se destacaram no magistério primário baiano, lutando por melhores condições de trabalho e refletindo sobre as realidades do ensino público primário. Cabe pois, salientar que também existiram mulheres de destaque no cenário educacional baiano, mas dada a importância destas e da temática de gênero, bem como das lutas que travaram buscando ampliar os horizontes, optamos por prestigiar estas mulheres do passado com uma sessão e exposição específica, valorizando e dando visibilidade aos seus feitos. (Nota das editoras responsáveis pela Exposição dezembro 2020)
……………………………………
CRÉDITOS
Pesquisa e organização: Verônica de Jesus Brandão e Tiane Melo dos Anjos.
Imagens: Foram utilizadas imagens disponíveis no acervo GPEC e no Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia.
PREZADO VISITANTE
Desejamos muito conhecer o que você pensa da Exposição Educadores Baianos do Império à República – Parte 1
Além de saber o que pensam da Exposição do mês de dezembro, queremos convidá-lo para participar da construção desta página.
Tem informações sobre os educadores contemplados nessa exposição ou de outros educadores do Império e da República? Tem material ou sugestão de temas para organizar uma exposição?
Colabore conosco enviando essas informações.
Por favor, preencha o formulário abaixo para registrar suas informações, opinião, sugestões, dúvidas e perguntas.
As editoras do blog agradecem
Para saber mais, visite nosso menu e entre para conhecer a seção EXPOSIÇÃO ESCOLAR. Lá você encontrará mais informações sobre como proceder para organizar uma exposição. Também poderá visitar as exposições divulgadas nas edições anteriores do Blog.