EXPOSIÇÃO ABRIL 2023
Em Destaque: Foto da Escola Normal no livro “A Fotografia na Bahia 1839-2006” de Aristides Alves, publicado em 2006, localizado na Biblioteca do Mosteiro de São Bento, em Salvador. Bahia.
O status da prática na formação dos professores na Escola Normal da Bahia
O ato de criação da Escola Normal apontava, principalmente, para a questão da prática, se considerarmos o conteúdo proposto na Lei número 37 de 14 de Abrilde 1836, assim descrito:
Haverá na capital desta província uma escola normal onde se habilitem as pessoas que se destinarem ao magistério da instrução primária
Esta escola compreenderá 2 cadeiras uma de ensino mútuo na qual se ensinará praticamente o método do ensino mútuo; outra em que se tratará da leitura da Caligrafia, Aritmética Desenho linear, Princípios da Religião Cristã, Gramática Filosófica da língua portuguesa com exercícios de análise imitação dos nossos clássicos.
Para estudar a formação na Escola Normal da Bahia é necessário investigar como ocorria a aprendizagem da prática e como essa aprendizagem se articulava com o ensino do conteúdo teórico.

Teatro São João, a primeira grande casa de espetáculo do Brasil, onde ocorreu a inauguração da Escola Normal, em 1841.
Fotografia do Largo do Theatro e do Teatro São, em 1865, por Joãode Camillo Vedani, localizada no site Salvador Antiga. Disponível em: http://www.salvador-antiga.com/centro-historico/teatro-sao-joao.htm
A Escola Normal e suas escolas anexas no Império
Escassez de informações
Exercício da prática fora dos muros do prédio da Escola Normal
Mudanças constantes do local de funcionamento da Escola Normal e das escolas primárias anexas
Pouco se sabe sobre o ensino prático ministrado na Escola Normal durante o Império. Os regulamentos e relatórios da instrução pública da segunda metade do século XIX fazem escassas referência às escolas anexas. Em alguns documentos, como por exemplo, os Anais publicados pelo Arquivo Publico do Estado da Bahia, em 2012, encontramos informações sobre a nomeação de professores para essas escolas.
Inaugurada em 7 de outubro de 1841, no teatro São João, a Escola Normal começou a funcionar em 1842.
Cinco anos depois, em 1847, o então presidente da província, doutor João José de Moura Magalhães, por ato de 16 de outubro
obrigou os alunos da escola normal à prática dos métodos frequentando uma escola primária das da capital e permitiu que, enquanto não fosse criada uma escola normal para senhoras, aquelas que quisessem ingressar no magistério, frequentassem uma escola pública ou particular de meninas, designada pelo Conselho de Instrução Pública, ficando obrigadas a exame vago, na Escola Normal, a fim de poderem exercer o magistério público. (Franca, p.15)
Com o ato nasce a tradição das escolas anexas. Anos depois, Abílio César Borges critica a aprendizagem da prática junto a um professor responsável por uma escola primária. Considera que as condições materais dessas escolas e a localização distante em relação à Escola Normal tornavam pouco proveitosa a passagem dos alunos por elas; propõe que a formação prática se dê através de um sistema de noviciado (1856, p. 47).
Em 1860, ao criar duas escolas normais, uma para cada sexo, o Regulamento Orgânico estabelece que em cada uma delas haverá uma escola anexa para o exercício da prática de métodos.
A Lei de Reforma de 1873 mantém as escolas anexas e acrescenta que essas escolas serão escolhidas pelo Diretor Geral da Instrução .
Em 1881, fica estabelecido que em cada uma das escolas normais funcionará para a prática dos alunos uma escola primária que será dirigida pelo professor de prática de métodos, cadeira introduzida no currículo do curso normal através do Regulamento de 5 de janeiro do mesmo ano. O professor responsável pelo exercício da prática passa a ser parte do corpo docente da escola normal.
Documentos produzidos nos anos 80 do século XIX fazem referência a Antônio Bahia e a Elias de Figueiredo Nazareth como professores da escola primária anexa à escola normal dos homens.


Elias de Figueiredo Nazareth e Antonio Bahia da Silva Araujo, professores da escola normal para homens que assumiram cargos importantes no cenário educacional da Bahia, no primeiro período republicano.
Saiba quem foram os professores das escolas anexas
Acesse o link Quadro de professores das escolas anexas 2
Enfim, em 1881, a Escola Normal e suas escolas anexas em um prédio próprio

Fotografia colorizada da Litho. Typ. Joaquim Ribeiro & Cia. disponível no Site Salvador Antiga. Acesso no link http://www.salvador-antiga.com/nazare/escola-normal.htm.
A foto do ano de 1920 mostra o Palacete Comendador Geremoabo, localizado na atual Avenida Joana Angélica, antiga rua Almeida Couto, adquirido pelo governo da província. Por volta de 1881 passaram a funcionar no prédio a Escola Normal de Senhoras e a sua escola anexa como indicado por Alípio Franca (1936, p. 55).
As escolas anexas na República
Escolas anexas e Escola Normal em um mesmo prédio;
subordinadas à administração do diretor da Escola Normal;
sob a orientação pedagógica do professor da cadeira de prática de métodos.
A primeira lei de reforma vigente no início da República, o ACTO DE 18 DE AGOSTO DE 1890, estabeleceu que :
funcionariam anexas a cada Escola Normal uma escola infantil, uma escola primária e uma escola primária superior, cada uma das quais regida por um professor, sob a direção geral do professor de prática de métodos; Estas escolas seriam modelo para as demais do Estado, nelas os alunos do curso normal se exercitariam na práica dos métodos.
Um longo tempo transcorreu até que as escolas estivessem dotadas de espaços físicos e materais adequados. Referindo-se à escola anexa da Escola Normal para Homens, que em 1893 ainda estava fora dos muros da Escola Normal, o professor Argemiro Plácido Cavalcante escreve: “As paredes estão imundas e esburacadas, o material para o ensino prático é estragado, faltando aparelhos necessários e indispensáveis ao ensino de diversas disciplinas, deste modo prejudicando-o e não correspondendo ao fim que o legislador a destinou”. (REVISTA DO ENSINO PRIMÁRIO, 1893, p. 104)
Pela Lei 117 que reformou a instrução, em 1895, e criou o Instituto Normal da Bahia as escolas anexas passam a ser consideradas um grupo escolar reunindo cinco escolas cada uma delas funcionando no regime de unidocência, preservando a condição de modelo para as demais escolas. A partir de então, ganham espaço na legislação da educação e nos relatórios dos diretores da escola normal.
As escolas anexas no Regulamento do ensino secundário e profissioal do ano de 1895

Fragmento da página do Regulamento do ensino secundário e profissional do ano de 1895
Fonte: Bahia. Atos do Governo do Estado da Bahia .Tipogafia de Cincinao Melchiades, 1912. p. 89-129.
Em 1898, instalações mais adequadas ao funcionamento da Escola Normal e suas escolas anexas
O prédio onde a Escola Normal de Senhoras e sua escola anexa tinham se instalado por volta de 1881 foi restaurado, em 1898, no governo de Luís Viana. Notícias em vários jornais de Salvador informam sobre a inauguração do prédio reformado.

Trecho do artigo publicado no dia 31 de outubro de 1898 no Jornal de notícias sobre a restauração do prédio ocupado da Escola Normal desde o início dos anos 80 do século XIX

Foto da Escola Normal, vendo-se nas suas laterais o espaço construidos para abrigar as escolas anexas do curso complementar , como descrito no artigo do jornal de Notícias
Fonte: Livro “A Fotografia na Bahia 1839-2006” de Aristides Alves, publicado em 2006, localizado na Biblioteca do Mosteiro de São Bento, em Salvador. Bahia.
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Acesse o link para ler o texto da notícia da inauguração.
Inauguração do prédio do Instituto Normal Jornal de Notícias 31 de outubro de 1898
A aprendizagem das práticas nas escolas anexas

Fonte: Nazareth, 1919, p.28
Os espaços internos das escolas primárias anexas
O registro do nome Instituto Normal da Bahia nas fotografias abaixo indica imagens produzidas, provavelmente, entre 1898 (quando houve a restauração do prédio) e 1914, antes de voltar a vigorar a denominação de Escola Normal proposta por Elias de Figueiredo Nazareth.

Fonte: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia

Fonte: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia

Fonte: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
As práticas pedagógicas nas escolas anexas, em 1936, na fala do diretor da Escola Normal


Páginas 56 e 57 do relatório do ano de 1936 de Alvaro Augusto da Siva, Diretor da Escola Normal, publicado pela Imprensa Oficial em 1938.
Fotos das escolas anexas no livro Memória Histórica de Alipio Franca, em 1936

Fonte: Franca, 1936.
Sala de aula da classe A do primeiro ano da Escola elementar, vendo-se normalistas com suas fardas observando a classe e professora regente em situação que indica estar conduzindo a realização de alguma atividade. Sobre a mesa dos alunos estão livros ou cadernos. A imagem indica uma situação de aprendizagem da prática de ensino.

Escola infantil.Fonte: Franca, 1936.

Jardim de Infância. Fonte: Franca, 1936
As escolas anexas no cenário educacional baiano
A partir da restauração de 1898, o prédio onde as escolas estavam localizadas recebe visitas constantes de autoridades, delegação de professores, figuras importantes no cenário nacional, internacional e baiano
Entre os visitantes que deixaram suas assinaturas e impressões registradas no Livro de Visitas do Instituto Normal localizado no Arquivo Público do Estado da Bahia encontram-se: Coelho Neto (1899); Metódio Coelho (1904); Isaias Alves (1913); Anísio Teixeira (1924); Afrânio Peixoto (1926); Francisco Moreira de Souza, diretor de Instrução Pública do Ceará (1929); Henri Wallon (1935); Malba Tahan (1939).
A influência na educação é evidente pelo grande número de diplomados em exercício nas escolas primárias de todo o estado e pelo satus de escola modelo para as demais instituições de ensino primário.
Até o momento, a influência que as escolas exerceram através da formação de alunos na educação infantil, curso elementar e complementar só pode ser mensurada pelo registro das matrículas.

PARA SABER MAIS, LEIA:
Formar, modelar, escolarizar: plantando sementes para uma história das escolas anexas à Escola Normal da Bahia de Elizabete Santana, Jaci Maria Ferraz de Menezes, Natalli Soeiro
e
Para uma história da Educação Infantil na Bahia de Verônica de Jesus Brandão
Textos publicados no livro MODOS DE FAZER: CULTURA E MEMÓRIA DA ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA NA BAHIA, Editora Edufba, 2020
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CRÉDITOS DA EXPOSIÇÃO
Exposição organizada pelas editoras do Blog Modos de Fazer Educação – no passado e no presente usando como recurso de apoio informações, textos e imagens localizadas nas instituições de guarda de documentos históricos sediadas em Salvador, sempre citadas ao longo da exposição.
Caro leitor, ao usar esta produção, favor citar a autoria e fontes.
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