Um negro na direção da Escola Normal da Bahia – Exposição Escolar dez/2022

Em destaque: Foto dos participantes no 2º Congresso Nacional de Geografia reunido em São Paulo, em 1910 no qual o professor Elias Nazareth esteve presente. Fonte: Relatório escrito por Elias de Figueredo Nazareth publicado em 1911 na Bahia pela Oficina Dois Mundos.(RELATÓRIO Congresso 1911 PDF)

Elias de Figueiredo Nazareth

Um diretor negro na Escola Normal

Primeira República

Texto de autoria das editoras do Blog (veja créditos)

FONTE: Foto datada de 23 de julho de 1916 no Livro A fotografia e o negro na cidade do Salvador 1840-1914 de autoria de Sofia Olszewski Filha publicado em 1989, pela EGBA, em Salvador.

Uma breve apresentação

Substituindo Pedro da Luz Carrascosa,  Elias de Figueiredo Nazareth foi nomeado diretor da Escola Normal da Bahia em 6 de abril de 1912, onde ficou até novembro de 1921 quando veio a falecer. Foi Lente de História Universal da Escola Normal da Bahia, professor de práticas de métodos no Externato Normal de Homens e enquanto diretor foi responsável por desenvolver duas grandes reformas: a Lei nº 1051 de 18 de agosto de 1914 que reestabeleceu cadeiras antigas e mudou o título do então “Instituto Normal” para “Escola Normal da Bahia” como de origem; e a Lei nº 1293 de 9 de novembro de 1918 que aumentou a quantidade de anos letivos, desdobrando cadeiras, melhorando os aspectos temporais e didáticos do curso normal.

Texto transcrito da Exposição dezembro 2020:  Educadores Baianos do Império à República –Parte 1

Formação acadêmica e experiência anterior

ao cargo de Diretor

Um longo período de preparação para o cargo

O Diário da Bahia de 09 de novembro de 1921 informa que naquele ano o professor Elias Nazareth tinha 72 anos. Teria portanto nascido por volta do ano de 1849 o que coloca a segunda metade do Império como o seu período de formação acdêmica na escola primária e na escola normal.

Em 1873, com 24 anos , já era professor vitalício no quadro de professores primários do estado quando foi removido da escola do Rio Vermelho para a escola anexa ao Externato Normal (APEB, 2012). Em 1881, é nomeado para a cadeira de Prática de Métodos da Escola Normal onde atua ao lado de Antônio Bahia e de outros professores ilustres.

Como professor da Escola Normal redige, em 1882, um parecer sobre as tabuadas de autoria da professora Emilia Leopoldina G. Collet que é aprovado por unanimidade na Congregação da escola.

Manuscritos localizados no Arquivo Público do Estado da Bahia dão notícia do professor integrando o Conselho Superior de Instrução entre 1906 e 1908 (Quadro 1).

Quadro 1.

Resumos de registros no Livro de Atas do Conselho Superior de Instrução localizado no Arquivo Público do Estado da Bahia

Título ou descrição do documento
Ata da sessão na qual foram apresentados pareceres sobre livros didáticos e mobílias escolares. país […]”.
Data: 18/07/1906
Autores/ Assinaturas: Octaviano Moniz Barreto; Cincinnato Franca; Elias Nazareth; E outros autores não registrados aqui.
Ata com registro do requerimento do professor Cincinato que declara ter-se recusado a presidir exames, em razão da comissão designada para procedê-los considerar que deveriam ser realizados de acordo com o regulamento vigente para as escolas municipais.
Data: 04/09/1906
Autores/ Assinaturas: Octaviano Moniz Barreto; Manoel Devoto; Ernesto Carneiro Ribeiro; Arlindo Fragoso; Cincinato Franca; Elias Nazareth; Alfredo Ferreira Magalhães
Ata da sessão extraordinária para emitir parecer sobre o preenchimento da cadeira de Pedagogia do Instituto Normal, vaga por morte do professor Odalberto Pereira. A ata registra ainda a leitura da informação dada pelo inspetor geral às petições dos professores Alipio Correia da Franca, Francisco de Carvalho Cavalcante e José Gonçalves da Cruz […].
Data 04/12/1908
Autores/ Assinaturas: Otaviano Moniz ; Antonio Carneiro da Rocha; Manoel Carlos Devoto; Pedro Luiz Carrascosa; Methodio Coellho; Elias Nazareth; Cincinato Ricardo Pereira Franca

Fonte: MONTEIRO e outros (orgs.). MODOS DE FAZER NA ESCOLA PRIMÁRIA: Presença e influência da escola normal e de suas escolas anexas Catálogo de Fontes Documentais 1854/2006. Edufba, 2018
Para ver a íntegra desses resumos e outros acesse  CATÁLOGO DE FONTES DOCUMENTAIS 1856 -2006

_________

Entre 1873, quando da sua remoção para ter exercício na escola anexa à Escola Normal de Homens, e 1912, ano da sua nomeação como diretor, foram muitas as experiências formativas que certamente prepararam o professor para o desempenho das atividades de gestão.

Participa das primeiras Conferências pedagógicas realizadas, em Salvador ainda no período imperial; exerce a docência como professor responsável por conduzir a aprendizagem prática dos alunos da Escola Normal de Homens. Faz viagens sucessivas para observação do sitema escolar em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Montevidéu e Buenos Aires.

Profesor de História Universal na Escola Normal convive na Congregação da Escola Normal e no Conselho Superior de Ensino com figuras de destaque na educação da Bahia.

Em 1910, participa em São Paulo do 2º Congresso Brasileiro de Geografia representando a Escola Normal da Bahia e em um relatório detalhado discorre sobre a realização do evento. ( Veja aqui relatório completo em pdf RELATÓRIO Congresso 1911 PDF )

No exercício da função de Inspetor de Ensino municipal, em 1900, acompanha o desempenho dos professores em exercício na cidade de Salvador que haviam sido preparados na Escola Normal, muitos dos quais certamente foram seus alunos. Sobre os resultados da sua inspeção refere-se em documento anexo ao relatório do Intendente do ano de 1901 aos problemas existentes nas escolas municipais e aponta entre suas conclusões:

Fragmento do relatório de Elias Nazareth incluso no Relatório que José Eduardo Freire de Carvalho apresentou ao Conselho Municipal, em 1901 (Documento localizado pelo GPEC na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, atual Biblioteca Central )

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Elias Nazareth na direção da Escola Normal

1912-1921

O início do exercício da função de Diretor

Em seu primeiro relatório como diretor dirigido ao Secretário de Estado responsável pela administração da educação o professor relata as ocorrências do ano de 1912 e na página de abertura faz referências às circunstâncias da sua nomeação e ao que acredita que são suas credenciais para o exercício do cargo

NAZARETH, Relatório do ano de 1912 publicado em 1913.

Cabe ressaltar que o relatório de 1913 e os demais escritos por Elias Nazareth trazem uma detalhada descrição do funcionamento da instituição são, portanto, uma importante fonte para o estudo da Escola Normal e das escolas anexas.

Como deveria atuar umo diretor da Escola Normal em 1912?

Os marcos legais que delimitavam a função do Diretor

Pelo Decreto N. 281 DE 5 de dezembro de 1904 que regulamentava a lei n. 579 vigente em 1912 o Instituto Normal da Bahia era uma instituição de ensino secundário profissional, que tinha por fim formar professores para as escolas públicas, ministrando a eduação física, intelectual, moral e prática necessária aos que se destinavam à arte de instruir e educar.

Sob o regime de externato a instituição deveria ministrar ensino misto cabendo para alunos e alunas lugares separados no recinto.

O decreto determinava muitas as incumbências para o seu diretor que eram idênticas às atribuídas ao Diretor do Ginásio. Além de dar plena execução ao regulamento e providenciar nos casos nele não previstos, o diretor deveria exercer suas funções sem prejudicar a regência de sua cadeira.

Suas atribuições e deveres diziam respeito à gestão financeira, administrativa, de pessaoal e pedagógica. Ao diretor cabia também assento como conselheiro no Conselho Superior de Instrução.

Ao vice-diretor cumpria apenas substituir o Diretor nos seus impedimentos.

Para visualizar o Decreto N 281 de 5 de dezembro de 1904 acesse https://modosdefazer653373167.files.wordpress.com/2020/07/decreto-n.-281-de-5-de-dezembro-de-1904.pdf

Quadro 2

Resumos de registros no Livro de Atas do Conselho Superior de Instrução localizado no Arquivo Público do Estado da Bahia

1914-1921

Fonte: MONTEIRO e outros (orgs.). MODOS DE FAZER NA ESCOLA PRIMÁRIA: Presença e influência da escola normal e de suas escolas anexas Catálogo de Fontes Documentais 1854/2006. Edufba, 2018

Para ver a íntegra desses e de outros resumos acesse  CATÁLOGO DE FONTES DOCUMENTAIS 1856 -2006

Os números que atestam o tamanho da instituição

Escola Normal da Bahia

Demanda por admissão. 1912-1920

NAZARETH, Relatório do ano de 1913

Escola Normal da Bahia

Matrícula e Frequência por escolas e cursos1912

NAZARETH, Relatório do ano de 1913

Escola Normal da Bahia

Matrícula e Frequência por escolas e cursos – 1920

NAZARETH, Relatório do ano de 1921

Os números inscritos na página 16 do relatório de Elias Nazareth datado de 1919 mostram os reflexos dos surtos epidêmicos da gripe que, em 1918 , asssolou Salvador. Também permitem dimensionar o número de pessoas com as quais Elias Nazareth tinha que lidar para fazer a Escola Normal funcionar. Trabalhavam na instituição de 69 pessoas, sendo 11 professores das escolas anexas, 34 do curso normal e 24 empregados da Secretaria.

NAZARETH, Relatório do ano de 1918 publicado em 1919.

A Escola Normal

Vitrine e modelo de educação

O Livro de Visitas e os depoimentos sobre a Escola Normal

Do livro de visitas aberto, em 1889, localizado no Arquivo Público do Estado da Bahia constam assinaturas de visitantes que deixaram as suas impressões sobre a escola, sempre apontando os aspectos positivos das suas instalações e funcionamento.

Entre as muitas assinaturas e impressões encontram-se as de Coelho Neto (maio, 1899); Metódio Coelho (outubro, 1904); Isaias Alves (abril, 1913); Anisio Teixeira (agosto, 1924); Afrânio Peixoto (setembro, 1926); diretor de Instrução Pública do Ceará (outubro, 1929); Henri Wallon (outubro, 1935); Malba Tahan (novembro, 1939); Erico Veríssimo (12 de novembro de 1957). Vários registros referem-se ao período da gestão de Elias Nazareth.

Depoimento datado de 9 de setembro de 1916.

Possuído do mais vivo júbilo com minha visita a Escola Normal da Bahia cumpro o mais grato dever apresentando aos meus distintos colegas e ao Sr Diretor Professor Elias de Figueiredo Nazareth e membros da Congregação [ meus cumprimentos ?] pelos relevantes serviços que neste Instituto modelar tem prestado a nobilíssima causa da Instrução Pública doutrinando e educando a mocidade esperançosa que aqui tem a ventura de preparar-se para o futuro da Pátria

Assinam o texto o Barão Homem de Melo e vários outros visitantes, inclusive o redator do Diário de Pernanbuco (Veja abaixo assinaturas em uma das páginas do Livro de Visitas )

Página do Livro de Visitas com assinatura de visitantes do dia 9 de setembro de 1916

Fonte: Livro de Visitas da Escola Normal localizado no Arquivo Público do Estado da Bahia

A Escola Normal na imprensa baiana

Instituição de pretígio na sociedade baiana, a escola normal era objeto de constante atenção por parte dos jornais da época. Seus diretores tinham espaço garantido nesses meios de comunicação.

Notícia sobre a publicação do relatório de Elias Nazareth

Diário da Bahia. 02 de outubro de 1914

O Adeus ao professor Elias Nazareth

Em 06 de novembro de 1921 falece o professor Elias Nazareth e o Diário da Bahia de 09 de novembro publica uma extensa nota.

Diário da Bahia, 09 de novembro de 1921.

Como será que Elias, um negro, se sentia entre os brancos?

A que preconceitos foi submetidos?

A charge abaixo comentada por Sinvaldo dos Reis Santos traz uma ideia da compleição física do professor Elias Nazareth, comprova o seu trânsito entre figuras importantes da sociedade e evidencia a diferença de cor entre os representados.

Entretanto, os documentos (jornais, revistas, relatórios de autoridades e de professores) publicados na Primeira República de um modo geral não fazem menção às questões de cor. Os escritos do professor Elias Nazareth, até então localizados, não são autobiográficos, não contam passagens pessoais de sua vida, não revelam sentimentos em relação a sua situação pessoal. São relatos comedidos de ocorrências profissionais. Assim, permanece essa interrogação: Como será que Elias, um negro, se sentia entre os brancos? A que preconceitos foi submetido por questões de cor?

Elias Figueredo entre brancos em uma sessão do Grêmio Literário

Fonte: SANTOS, Sinvaldo dos Reis. O NOBRE EDUCADOR” DA BAHIA: TRABALHO, CIDADANIA E SOCIABILIDADES (1870-1922) publicado na Revista Eletrônica Trilhas da História, v. 10, n. 19, ago.-dez., ano 202

Para ler o texto completo acesse Sobre Elias Nazareth

Clique nos links abaixo para ver o texto dos relatórios de Elias Nazareth

CRÉDITOS:

**Texto de autoria das editoras- Cândida Monteiro; Elizabete Santana; Ladjane Sousa; Lília Nascimento; Tiane Melo e Verônica Brandão utilizando principalmente fotografias de documentos localizados no Arquivo Público de Estado da Bahia (APEB) e na Biblioteca Pública do Estado da Bahia (BPEB) atual Biblioteca Central do Estado da Bahia.

De acordo com leis vigentes é proibida a reprodução total ou parcial sem citar a autoria.

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