OS ESCRITOS DAS NORMALISTAS NA REVISTA DE EDUCAÇÃO DA ESCOLA NORMAL DE CAETITÉ.
Uma breve introdução
A história de uma escola de formação de professores encerra várias histórias que podem ser contadas por muitas vozes, cada uma delas tendo diferentes fios condutores. JAQUELINE MARIA DE SANTANA OLIVEIRA SILVA tomou as escritas de alunas da Escola Normal de Caetité publicadas na REVISTA DE EDUCAÇÃO DA ESCOLA NORMAL DE CAETITÉ como fio condutor para construir uma das seções da sua dissertação de mestrado. Na construção da exposição que se segue foram usadas partes das considerações de Jaqueline associadas a um pouco da história dessa escola tão bem retratada no texto-provocação REENCONTRO.
Um pouco da história da Escola Normal de Caetité entre 1896 e 1928
A Escola Normal de Caetité de 1896 a 1903.
Criada em 1896 em razão das articulaçãoes políticas entre Dr. Deocleciano Pires Teixeira e Joaquim Manoel Rodrigues Lima, o primeiro governador republicano da Bahia eleito pelo voto popular, que era caetiteense, a escola teve o seu regulamento decretado em 1896 ( Ver Decreto regulamento Escola Normal de Caetité em 1896 pdf 2).
Inaugurada em 1898, foi extinta em 1903 por questões políticas, no governo de Luis Viana( Veja Decreto extinção Escola Normal de Caetité 1903 pdf 3).
Em seu curto tempo de funcionamento formou três turmas diplomando um total de 32 professoras.
A Escola Normal de Caetité em 1926.
A recriação da Escola Normal de Caetité tem sua origem no decreto N. 4.218, de 30 de dezembro de 1925 que aprovou o Regulamento do Ensino Primário e Normal na gestão de Anísio Teixeira. Em seus artigos 414 e 415 o Regulamento estabeleceu que:
- O ensino normal, ministrado nas escolas normais, se destina ao preparo e formação de professores primários;
- O governo manterá, enquanto julgado suficiente esse número, quatro escolas normais, sendo uma na Capital, que servirá de modelo, e as demais no interior, situadas em localidades que melhor sirvam os objetivos de sua criação;
- Embora devendo obedecer no plano geral do ensino e da sua organização à escola normal da Capital, as escolas do interior deverão atender, tanto quanto possivel, às particularidades da região onde estiverem localizadas.
Prédio da E N a partir de 1926.

Fachada do prédio da Escola Normal de Caetité.
(Atualmente cedido para o funcionamento da Câmara Municipal).

Parte lateral do prédio da Escola Normal
Segundo o Jornal A Penna (1926), a escola funcionava no antigo Colégio dos Jesuítas, em um imponente prédio, com estrutura elogiada principalmente pelo diretor de instrução. Era composta por “[…] salão nobre, uma biblioteca, um museu, um gabinete dentário, uma capela, um laboratório, e nele funcionava, além do curso normal, o curso fundamental, as escolas anexas e o jardim de infância” (ROCHA, 2012, p. 34, apud SILVA, p. 51, 2020).
Silva (p.102, 2020 ) refere que Sousa (2001, p. 63) considera que:
A presença de escolas no interior consistia em assegurar a formação de professores para os sertões, implantar novos métodos, novas, práticas, novos processos, e novas representações de ensino. A instalação de uma Escola Normal em qualquer cidade era símbolo de civilização e modernidade assim como a presença de uma normalista no seio familiar
.
De fato, diante das dificuldadea para alocar no interior do estado os professores formados na escola Normal da Capital, Anísio Teixeira concebe como solução a criação em outras cidades de escolas para formação de professores. É o que se observa em diversas falas do Diretor da Instrução, inclusive em seu relatório do quadriênio 1924-1928 no qual afirma:
Fundada , apenas há dois anos, em pleno sertão, no edifício onde funcionou o Colégio de São Luiz, instituto de educação secundária dirigido pelos jesuítas, a Escola Normal de Caetité vai levando avante, apesar de todas as dificuldades, um programa de estabelecimento profissional de formação de professores modernos, para o interior do Estado. (TEIXEIRA 1928, p. 73).
Vários fatores contribuiram para os bons resultados alcançados e a permanência da instituição. Caetité já tinha uma tradição de abrigar instituições culturais e de educação importantes para a sociedade caetitense e para a região em torno da cidade (BRITTO, 2018); houve uma cuidadosa escolha dos docentes e da direção da escola; o seu programa de estudo foi delineado com base no da Escola Normal da Capital como referido no Regulamento do ensino primário e normal do ano de 1925; No início da gestão 1924-1928, Anísio Teixeira teve especial cuidado com a reformulação do ensino normal e uma atenção para o seu funcionamento.
Distribuição das matérias do curso nas ecolas normais da Capital e Caetité.
1925

Fonte. DECRETO N. 4.218, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1925 que aprova o Regulamento do Ensino Primário e Normal. Disponível em: https://modosdefazer.org/documentos-historicos-levantados/
A preocupação de Anísio Teixeira em adaptar o elenco de disciplinas às caracterísiticas da região resultou, por exemplo, em incluir a Agricultura do 2º ao 4º ano na Escola Normal de Caetité, enquanto na capital a disciplina aparece apenas nos dois últimos anos. O contexto de urbanização de Salvador com a possibilidade de inserção dos alunos em outras atividades diferentes da docência pode explicar a introdução da datilografia na Escola Normal da Capital. Existem outras diferenças que podem ser explicadas pela disponibilidade de docentes e por outras razões.
As representações nos textos das normalistas da EN de Caetité
A fonte de informações
A REVISTA DE EDUCAÇÃO DA ESCOLA NORMAL DE CAETITÉ

Capa do número 8 da Revista de Educação da Escola Normal de Caetité, último número publicado pela revista.(Fonte: Acervo GPEC).
A capa traz uma foto do prédio da escola Felix Gaspar, em Sabto Antônio de Jesus. No prédio inaugurado em 1928 a Felix Gaspar funcionou como Escolas Reunidas.
A Revista da Escola Normal de Caetité surgiu a partir do regulamento de 1925 que em seu artigo art. 669 determina a criação de uma revista das escolas normais.
Criada em 1927, era dirigida por Edgard Pitangueira, diretor da escola. Tinha um corpo de redatores escolhidos entre os docentes e publicava textos de professores e alunos tornando-se uma importante fonte para a história da educação na Bahia. Teve oito números publicados entre 1927 e 1928 e, devido a dificuldades financeiras, teve um curto ciclo de vida. Acesse aqui Relação por número do conteúdo publicado entre janeiro de 1927 a abril/junho de 1928
Alunas que publicaram na Revista da Escola Normal de Caetité. 1927 -1928

Fonte: Revista de Educação de Caetité. Acervo GPEC.
Cinco alunas estão presentes na revista, tendo publicado ao todo nove textos, entre os quais está incluído o pequeno discurso que Myrthes de Uzeda Costa proferiu, em 1927, no aniversário da escola.
Quatro dos textos publicados parecem ser resumos de pesquisas bibliográficas ou apontamentos decorrentes da audição de aulas expositivas sobre os pontos e temas relacionados com os conteúdos do programa do curso normal. Os docentes também publicavam textos que reproduziam aulas minsitradas em diversas disciplinas. Um exemplo é o texto do professor Salvador Passos sob o título de Lição de Geografia: Escola elementar de adaptação anexa a Escola Normal de Caetité, publicado das páginas 22 a 23 do N.1, um modelo de aula desenvolvida através de diálogos com os alunos que são durante todo o tempo estimulados a participar.
Os editores declararam no número 1 que o periódico estava a serviço da formação de professores em uma perspectiva de renovação dos métodos segundo princípios de uma escola moderna, ou seja, o periódico estava alinhado com a proposta política e pedagógica difundida pelo Diretor de Instrução.
Dos nove textos, quatro se afastam do modelo de texto resumo de anotações. Em Uma viagem à Europa sem sair de Caetité a aluna Bellaniza descreve uma técnica que foi muito presente no ensino da didática nos anos 50 do século XX e que consistia em ensinar geografia através de “viagens simuladas” na qual o professor abandona a exigência de memorização do nome dos acidentes físicos e das definições. Usando mapas, objetos típicos dos lugares que se encontram no trajeto, como fragmentos de minerais, gravuras e outros materiais concretos associados a elementos de dramatização, o professor leva o aluno a aprender como se estivesse viajando.

Parte do texto publicado por Bellaniza Lima no N. 2, março de 1927 da Revista de Educação
Eponina Gumes é a aluna que tem o maior número de textos publicados. Várias razões desconhecidas podem ter concorrido para a garantia de espaço no periódico. Seu sobrenome indica um parentesco com João Gumes , dono da tipografia que editava a revista e editor do jornal local, A Penna. Eponina publicou quatro textos:
Considerações Breves sobre Geografia: Águas Continentais, Eponina Zita dos Santos Gumes – p. 55 a 56; ANO I – MARÇO DE 1927 – N. 2
Porque desejo ser professora, Eponina Zita dos Santos Gumes (secundarista do curso normal) – p. 98 ANO I – JUNHO DE 1927 – N. 3
Um pouco de Agrologia, Eponina Zita dos Santos Gumes – p. 195 a 196; ANO I – OUTUBRO DE 1927 – N. 5
As férias, Eponina Gumes – p. 215; ANO I – DEZEMBRO DE 1927 – N. 6
Dois desses textos fogem do modelo de resumo. Em As férias Eponina discorre sobre a necessidade de um período de decanso para alunos e professores, ao mesmo tempo em que descreve características físicas e culturais da região. (Veja aqui o Texto As férias.)
No texto Porque desejo ser professora (veja aqui), segundo Jaqueline Silva (2020), a aluna expressa não apenas seu afinco na conquista da carreira tão pretendida, mas revela que ser professora não era uma simples tarefa, era necessário ter habilidade para o ensino, uma vez que as formandas estavam sendo preparadas para a árdua missão de erradicar o analfabetismo. A missão educativa das normalistas de Caetité estava atrelada ao projeto do governo de Góes Calmon de levar a instrução para os sertões da Bahia e fazer dos professores figuras essenciais para o desenvolvimento social.
As ideias expressas por Eponina estão presentes também no texto de Myrtes, sua colega, que ao escrever A minha vocação, afirma:

COSTA. Revista de Educação da Escola Normal, Caetité p.110 Ano 1 junho de 1927, N.3
Veja aqui o texto A minha vocação
Anjos( 2013) , que também analisou os escritos de alunas, considera que ideias ” fortemente disseminadas ao longo dos anos por autoridades tais como Paranaguá (1882), Barroso (1881) e outros foram incorporadas ao discurso feminino.

Quadro de formandos no ano de 1929
Em primeiro plano da esquerda para a direita, temos: professor Alfredo José da Silva, professor Dr. Edgar Pitangueira, professor Dr. Antônio da Silva Ramos (o homenageado da turma), o governador da Bahia Dr. Francisco M. de Góes Calmon e Dr. Anísio Spínola Teixeira, ambos com menção de honra ao mérito. Abaixo estão os concluintes (dez mulheres e um homem): Brasília Cardoso, Ena Mesquita, Eponita Gumes, Evangelina Lobão, Dalcy Silveira, Joaquim Souza, Judith Cunha, Altamira Souza, Maria Castro, Bellanisa Lima, Myrtes Costa. (Em negrito nome das alunas autoras de textos na Revista).
Fonte: SILVA, Jaqueline (2020).
E depois de 1928 ?
A Escola Normal de Caetité continuou com transformações e muitas histórias.
Hoje, é o Instituto de Educação Anísio Teixeira -IEAT

Prédio do IEAT. Foto Disponível em: http://raquelprofessorinha.blogspot.com/2011/11/fotos-legendas-e-bispos-de-caetite.html. Acesso em25/07/2022
Para ver os textos que serviram de base para a construção dessa exposição, acesse:
Sobre a cultura letrada de Caetité veja a tese:
CRÉDITOS DA EXPOSIÇÃO
A exposição junho/julho 2022 teve como ponto de partida um texto-contribuição de autoria de JAQUELINE MARIA DE SANTANA OLIVEIRA SILVA que foi acrescido de informações complementares levantadas pelas editoras do Blog na dissertação de mestrado de Jaqueline e em outras fontes.
JAQUELINE é pedagoga e mestra pela Universidade do Estado da Bahia -UNEB
Nossos agradecimentos a Jaqueline por sua colaboração.
Contamos um pouco da história Escola Normal de Caetité sob uma certa ótica. Alunos, professores e membros da comunidade podem contribuir para a contação de outras histórias e registro de memórias. VOCÊ DESEJA PARTICIPAR?
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