Exposição Escolar junho 2023
Em destaque: Foto na qual se vê, ao centro com um chapéu em suas mãos, Cosme de Farias. A Liga Baiana contra o Analfabetismo criada por ele, em 1915, funcionou até a década de 1970, mantendo escolas e distribuindo cartilhas da Campanha do ABC para a população mais pobre, da capital e de outras cidades da Bahia. Fonte: Biblioteca do Arquivo Histórico Municipal de Salvador.
Sobre a exposição junho 2023
No dia 12 de junho, em Brasília, foi lançado o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada que vai subsidiar ações concretas dos estados, municípios e Distrito Federal para a promoção da alfabetização de todas as crianças do país.
A Cartilha surge em meio às preocupações de educadores diante da ausência de medidas que indiquem o que se deseja implementar na área de educação na gestão presidencial iniciada neste ano de 2023.
O principal objetivo do Compromisso é garantir que 100% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas ao fim do 2º ano do ensino fundamental, como está previsto na meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE) e no Plano Estadual de Educação da Bahia.
Resta esperar a divulgação do posicionamento de educadores e entidades da área de educação sobre a nova proposta. Por enquanto, conhecemos a manifestação do CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação que aponta entre outras questões: a falta de identidade da proposta; a abertura para o capital privado em relação aos itens livro didático e formação de professores; a ausência de preocupação voltada para a alfabetização de jovens e adultos; a liberação dos critérios de alfabetização e a ausência em sua formulação da sociedade, das Universidades públicas e das entidades voltadas para a educação infantil.
Tendo em vista o recente lançamento do Compromisso e as importantes questões em relação à alfabetização que persistem em nosso país, resolvemos tomar o tema como central na construção do Texto-Provocação e da Exposição Escolar do mês de junho/2023.
PARA SABER MAIS ACESSE OS LINKS:
Compromisso Nacional Criança Alfabetizada Cartilha Alfabetização
CONSIDERAÇÕES DA CNTE SOBRE O PROGRAMA DO MEC “COMPROMISSO NACIONAL CRIANÇA ALFABETIZADA”
ABAlf – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALFABETIZAÇÃO ( https://www.abalf.org.br/)
Compromisso do governo federal por etapas de alfabetização declarados, em 2023

Fonte: Compromisso Nacional Criança Alfabetizada – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Por dentro das estratégias do Plano Estadual de Educação- Bahia 2016/2026.
Para estar por dentro do Plano Estadual de Educação é preciso conhecer suas metas e, principalmente, suas estratégias.
Podemos considerar a estratégia como “um padrão ou plano que integra as principais políticas, objetivos, metas e ações da organização”(Chiavenato e Sapiro 2003, p. 41, citado por Godoy e Machado, 2011 ). A implementação das estratégias garante a concretização das metas razão pela qual integrantes do Fórum Estadual de Educação da Bahia estão preocupados a essa altura do ano de 2023 com o acompanhamento das metas do nosso Plano Estadual que estará vigente até o ano de 2026. É o acompanhamento que dará as bases para o delinear o Plano que entrará em vigor nos dez anos posteriores ao período de 2016-2026.
Acesse aqui para visualizar a linha de tempo em PDF linha de tempo das tarefas implícitas na execução do Plano Estadual
Caso queira conhecer o Plano Estadual de Educação, clique aqui PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DA BAHIA 2016-2026
Estratégias para a alfabetização de crianças até o 3º ano no Plano de Educação do Estado da Bahia

Fragmento do texto PEQUENO BALANÇO SOBRE A EXECUÇÃO E PERSPECTIVAS DO PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DA BAHIA de autoria da Profa. Maria Couto Cunha apresentado ao Fórum Estadual de Educação da Bahia, em abril de 2023.
Para conhecer o documento acesse monitoramento PEE abril 2023
Três das estratégias do Plano Estadual de Educação da Bahia para viabilizar a alfabetização de crianças até o 3º ano estão diretamente voltadas para a formação de professores. É o caso do desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras, formação inicial e continuada de professores alfabetizadores e da articulação entre a formação de professores e os Programas de Pós-Graduação. Embora a estratégia sobre tecnologias educacionais não faça referência à ação dos docentes, trata-se de algo que não pode ser implementado sem passar por esses atores.
Os desafios para a alfabetização de crianças na Bahia em tempos recentes e no passado
Os desafios em tempos recentes
Partindo do pressuposto de que os planos de educação são elaborados com base nos problemas identificados, as estratégias elencadas no caso da meta alfabetização das crianças em até 3 anos correspondem de certa maneira aos desafios que existiam, até 2016, para fazer avançar a quantidade de crianças alfabetizadas na Bahia .
A partir dos resultados da ANA – AVALIAÇÃO NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO, a profesora Maria Couto Cunha apontou que, em 2016, do total de alunos do 3º ano do ensino fundamental avaliados 36% alcançaram nível insuficiente em Leitura 24 % em Escrita e 48% em Matemática.
Por trás dos percentuais é possível identificar novos desafios. O primeiro deles diz respeito ao conteúdo. Que dificuldades as crianças encontram para aprender os conteúdos que resultariam em níveis suficientes ou desejados de alfabetização? Ou, ainda, que dificuldades os professores encontram para ensinar tais conteúdos? Esses desafios são, portanto, desafios pedagógicos e podem ser conhecidos consultando o documento AVALIAÇÃO NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO Edição 2016.
Um segundo desafio pode ser percebido através dos mapas construídos para representar os níveis de alfabetização alcançados pelos alunos em cada estado da federação. Os mapas revelam desigualdades regionais e a Bahia tem o desafio de reduzir a grande distância que apresenta em relação aos estados mais bem colocados na ANA.
Percentual de alunos do 3º ano alocados no nível insuficiente em relação aos resultados apresentados nas questões da prova de escrita SAEB/ANA 2016

Percentual de alunos do 3º ano alocados no nível insuficiente em relação aos resultados apresentados nas questões da prova de leitura SAEB/ANA 2016

Percentual de alunos do 3º ano alocados no nível insuficiente em relação aos resultados apresentados nas questões da prova de matemática SAEB/ANA 2016

A fonte dos mapas é o documento AVALIAÇÃO NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO Edição 2016 disponível em http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/36188 ou em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=75181-resultados-ana-2016-pdf&category_slug=outubro-2017-pdf&Itemid=30192
NOTA – A Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA é um dos instrumentos do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e mede os níveis de alfabetização e letramento em língua portuguesa, a alfabetização em matemática e as condições de oferta do ciclo de alfabetização das redes públicas. Passam pela avaliação todos os estudantes do terceiro ano do ensino fundamental matriculados nas escolas públicas no ano da aplicação.
Os desafios no passado
Os questionamentos sobre as dificuldades encontradas no avanço da alfabetização incluem desafios relacionados ao tipo de escola, fins e objetivosdos da escola primária, conteúdos, métodos de ensino, formação dos professores e a proficiência dos alunos quanto aos conteúdos relativos à linguagem. As solouções e propostas de inovação também passam pelos mesmos elementos.
No Texto-provocação do mês de junho 2023 ” Repercussões do Processo de Formação na Prática do Professor Alfabetizador ” (https://modosdefazer.org/?p=35293) a autora trata de questões em torno da alfabetização que estavam presentes nos anos 90 do século XX e aborda alguns dos itens anteriormente elencados.
Próximo ao final do século anterior , em 1884, Emília Collet, professora de Língua Nacional da Escola Normal da Bahia registra em um ofício dirigido Diretora do Externato Normal de Senhoras o seu descontentamento pelo nível de “alfabetização” das normalistas muitas das quais eram deficientes em conteúdos de linguagem que deveriam ter sido aprendidos na escola primária.
Fragmento do Ofício de Emilia Collet datado de agosto de 1884

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia
Para ler o texto completo acesse Ofício de Emilia Collet
Que tipo de escola primária, de concepção de alfabetização e de avaliação dos alunos estavam por trás dos resultados criticados por Emilia Collet?
Collet encaminha seu ofício em agosto do ano de 1884, três anos depois da reforma de ensino de 1881 que prescreveu modificações profundas no currículo do curso de formação de professores e do curso primário introduzindo novas disciplinas e propondo o ensino com base no método intuitivo. As normalistas cuja proficiência em linguagem a professora Collet avalia eram oriundas de um curso primário regido pelo Regulamento de 1875 que prescrevia um currículo ainda muito “acanhado” em relação às exigências introduzidas em 1881 como pode ser visto na imagem abaixo que determina o conteúdo a ser ministrado na escola primária.
Página da Resolução de 28 de junho de 1875 que reformou a instrução pública no mesmo ano

Fonte: Leis e Resoluçõs da Província da Bahia do ano de 1875. Bahia: Imprensa Oficial, 1875. Obra localizada na Biblioteca Pública do Estado da Bahia.
Em 1881, a aluna mestra Bernadina Leocádia de Sequeira ao escrever uma memória para concorrer à cadeira da Freguesia da Vitória critica o processo de alfabetização adotado nas escolas e discorre sobre o que considera mais moderno e adequado. Também faz observações sobre os materiais de apoio utilizados para a aprendizagem da linguagem na escola primária.
Trecho da memória escrita por Bernadina Leocádia
Reconhecendo-se pois os inconvenientes deste método, inventou-se o da soletração moderna, que só difere do 1º em serem as letras designadas pelos seus valores. Assim passou-se a chamar a letra eme – m, efe -f, etc.
Subsistiam ainda todos os grandes inconvenientes, os quais desaparecem pelo método sem soletração.
Por ele o aluno começa a estudar o alfabeto pelas vogais, formando com elas sílabas, passa depois ao estudo das consoantes, começando pelas que tem sempre o mesmo som, como b, d, m, etc. Forma com estas, reunidas às vogais, sílabas, palavras, e depois frases. Quando o menino chega assim a aprender todo o alfabeto tem conhecimento de leitura de frases, e pode passar ao estudo de historiaszinhas que devem, a princípio ser curta e faceis, e pouco a pouco mais difíceis, como muito bem dispuzeram o [Senhor Doutor] Abílio em seu 1º e 2º livros de leitura, e Th. H. Barreau em sua obra intitulada Deveres dos meninos, traduzida por João de Deus.
Para conhecer o texto completo da memória da professora Leocádia acesse MEMÓRIA LEOCÁDIA
E para finalizar …
As questões relacionadas ao ensino da linguagem e à alfabetização estiveram presentes em diferentes momentos da nossa história. Ao longo do tempo resultaram em diferentes propostas e procedimentos inovadores. Os desafios continuam existindo. Hoje, por certo, são muito diferentes dos apontados na década de 90 do século passado e nos anos 80 do século XIX, o que nos estimula a perguntar:
O que dizem nossos professores sobre os desafios para alfabetizar as crianças até o 3º ano ? Quais são os desafios da alfabetização na educação infantil, no ensino fundamental e na educação de adultos? E como chegaram à escola as estratégias postas para a concretização da Meta 5- Alfabetização até o 3º ano? Os problemas observados na década de 90 do século XX registrados no texto – provocação ainda estão presentes?
Não esqueça de deixar os seus comentários sobre a exposição.
E leia o texto-provocação acessando…
Repercussões do Processo de Formação na Prática do Professor Alfabetizador ” (https://modosdefazer.org/?p=35293)