Em destaque: Foto de parte da capa do Primeiro Livro de Leitura ou Cartilha Popular de Abilio Cesar Borges localizado no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
SOBRE O TEXTO
Estimuladas por Maria Couto Cunha e Nádia Hage Fialho, Doutoras em educação, integrantes do FEEBA – Fórum Estadual de Educação da Bahia, as editoras do Blog Modos de Fazer Educação vêm dirigindo sua atenção para o conhecimento das metas e estratégias do Plano Estadual de Educação da Bahia. Notícias recentes sobre uma proposta do governo federal voltada para a alfabetização nos estimulou a “ficar por dentro” da Meta 5 do plano baiano: Alfabetização de crianças até o 3º ano.
Por trás dessa meta estão desafios postos faz muitas décadas. O texto -provocação do mês de junho trata de questões em torno da alfabetização que estavam presentes nos anos 90 do século XX. Como sempre procedemos, o texto-provocação tem a função de estimular reflexões sobre o tema escolhido para organizar a Exposição Escolar mensalmente publicada.
A Exposição Escolar Junho/2023 tem o título de: Os desafios da alfabetização na Bahia e as estratégias do Plano Estadual de Educação -PEE-Bahia 2016/2026. Para visitar acesse aqui https://modosdefazer.org/?page_id=35304
LEIA O TEXTO – PROVOCAÇÃO E INSPIRE-SE PARA REFLETIR SOBRE A ALFABETIZAÇÃO DAS CRIANÇAS DE NOSSO ESTADO, ESPECIALMENTE DAS QUE ESTÃO EM ESCOLAS PÚBLICAS.
Repercussões do Processo de Formação na Prática do Professor Alfabetizador (*)
Texto divulgado em 1990
Posto que a formação do Professor Alfabetizador não é um objetivo claramente assumido pelos cursos de magistério, a prática pedagógica desenvolvida em classes de alfabetização se assenta em três recursos de que, normalmente, o professor lança mão para enfrentar o desafio de alfabetizar: a memória da sua própria alfabetização, o livro didático, particularmente as cartilhas de alfabetização, e processos independentes de autodidatismo e de aproveitamento de experiências desenvolvidas por ele próprio ou por outros colegas.
Estes processos tem profunda ressonância na prática desenvolvida pelos professores alfabetizadores, que, de um modo geral, carece de base teórico – científica. Predominam “o aprender a fazer fazendo” e a concepção de que, “na prática, a teoria é outra”.
Separando, radicalmente, teoria e prática, os professores, em sua maioria, acreditam que a prática é a única base segura para o seu trabalho, não passando a teoria de verbalismo em nada concernente às necessidades do cotidiano escolar.
O referencial linguístico básico do aluno, que é a sua experiência de oralidade, é desprezado privilegiando – se as atividades predominantemente escritas. Nada é mais maltratado nas classes de alfabetização de que a expressão oral livre do aluno. O dialeto de que ele é portador (em quase nada diferenciado do da professora), instrumento básico de sua comunicação nas situações concretas do dia a dia, é estigmatizado, rechaçado como “falar errado”, em nome de uma suposta correção na direção de um falar padrão, que nem a professora ou a escola sabem qual é, mas que supõem estar estimulando a sua aquisição através da correção, principalmente da concordância verbal e nominal e da correção de “pronúncias erradas”.
A fixação em atividades, enfatizando a escrita., de repetição e de memorização, tornam o processo de alfabetização penoso, árido e sem sentido, processo vivenciado, tanto pelos professores quanto pelos alunos, com reflexos nítidos nas dificuldades enfrentadas pelos alunos nas séries subsequentes ou durante toda a escolaridade.
O principal desses reflexos é a internalização do conceito de escrita, como transcrição e da leitura como recitação oral, decodificação mecânica de sinais.
Uma análise da prática pedagógica em classes de alfabetização vai revelar que a escola é um espaço onde se consegue a façanha de lidar com a linguagem, através de uma completa assepsia de seus usos individuais e de suas funções sociais.
As concepções correntes entre os professores alfabetizadores traduzem um despreparo para o enfrentamento desta tarefa. Para esses professores, “Ler é memorizar letras, sílabas, traçados, sendo que, para tanto, são usadas associações e recursos mecânicos, quase sempre estereotipados, independentemente da compreensão e da construção conceitual. Escrever é transcrever, logo, uma atividade mecânica, em que produzir o texto é confundido com copiar o texto. Por conta disso, na quase totalidade das situações observadas, a escrita é tratada de forma árida e pouco funcional. A leitura e a escrita independem do contexto e do motivo para gerar necessidade de significação. Escreve-se por escrever, lê-se por ler. Ler e escrever são coisas estanques, não necessariamente integradas, daí o que se lê quase nunca ser o que se escreve e o que se escreve raramente ser o que se lê”. (1).
- Alves, MF. Alfabetização: Uma Prática e seus Pressupostos Teóricos (dissertação) Mestrado em Educação da UFBa,1990.
(*) Texto extraído de: Luz, Ana Maria de Carvalho et al. A ALFABETIZAÇÃO E O ANALFABETISMO NO ESTADO DA BAHIA: ESTADO ATUAL. SALVADOR, 1990. (Documento datilografado elaborado para subsidiar os debates e discussões do Encontro Estadual de Alfabetização apoiado pelo Centro Brasileiro da Infância e Adolescência -CBIA e o Fundo das Nações Unidas para a Infância -UNICEF ).

Capa do livro de Abilio Cesar Borges localizado no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
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