Exposição fevereiro/ março 2022

Em destaque Igreja Matriz de Santo Antonio, na Praça Castro Alves, em Jacobina/ Bahia, em foto cedida por Tereza Cristina Pereira Carvalho Fagundes. Sobre a igreja, o IPAC-BA – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia informa em http://www.ipatrimonio.org/jacobina-igreja-matriz-de-santo-antonio que a torre do lado do Evangelho foi construída, em 1895, com pedras da inacabada Igreja dos Remédios.

Alcira Pereira Carvalho Silva, professora primária e secundária: Uma testemunha da História da Educação em Jacobina/Ba de 1933 a 1981

Exposição baseada no texto A EDUCAÇÃO EM JACOBINA-BAHIA: MEMÓRIAS DE UMA EDUCADORA de Alcira Pereira Carvalho Silva, de 2005, uma atualização de seu livro “50 ANOS DEPOIS”,editado em 1985, encaminhado ao GPEC, em 2013, por Tereza Cristina Pereira Carvalho Fagundes. As intervenções limitaram-se a incluir imagens do acervo do GPEC e a realçar com cores ou subtítulos as falas que foram transcritas do texto original. Ao final da exposição encontra-se um link para acesso ao texto de Alcira, em sua íntegra.

SOBRE ALCIRA PEREIRA CARVALHO SILVA

Experiência profissional

Fundadora e professora do primeiro Jardim de Infância público de Jacobina;

Professora Primária (Escolas Reunidas Luís Anselmo da Fonseca);

Professora Secundária (Centro Educacional Deocleciano Barbosa de Castro);

Delegada Escolar Residente;

Vice-Diretora (Grupo Escolar Alice Barros de Figueiredo) – Jacobina-Bahia;

Membro da Academia Jacobinense de Letras e da SBPC.

Ao lado foto da professora Alcira no livro A EDUCAÇÃO EM JACOBINA-BAHIA: MEMÓRIAS DE UMA EDUCADORA

Escritos de Alcira Pereira Carvalho Silva

Cinqüenta Anos Depois. Salvador: A.P.C.Silva. 1985.
Jacobina Sim. Salvador: A.P.C.Silva. 1988. Triunfo – baixa verde de meus sonhos. Salvador: Helvécia. 2001.
Caminhos percorridos – Adhemar – de Caatinga do Moura a Jacobina
.
Salvador: Helvécia. 2003.
Artigos, ensaios e poemas.
Em coletâneas, principalmente Letras Douradas (2002,
2004 e 2005),
da AJL – Academia Jacobinense de Letras e no jornal A Letra, também da AJL.

Primeiras impressões de Alcira, ao chegar em Jacobina, no ano de 1933

O enfado de uma longa viagem, tomando vários transportes, desde o caminhão, a barca do rio São Francisco, o trem de Juazeiro a Senhor do Bonfim e, desta cidade, ao fim de nossa jornada, despertava minha atenção para a visão panorâmica da cidade que aparecia, tirando a apatia reinante no vagão de primeira classe da Leste Brasileiro, onde me encontrava em companhia da minha família e mais alguns passageiros, ao todo em número de dez… O casario aparecendo e eu bradando: Hosana! Hosana! chamando minha prima para vê-lo, no momento que chegava à Jacobina, às 3 horas da tarde do dia 10 de janeiro de 1933, terra esta que iria ser o berço da minha adolescência…

A cidade que se me apresentava nesse momento era constituída de umas poucas ruas e travessas.[…].

Jacobina, nesta época (1933), atravessava uma das maiores secas de que se tinha notícia, bem como todo o Nordeste do Brasil. Levas e mais levas de flagelados passavam pela cidade, dando-lhe aspecto desolador. Por outro lado, a sociedade local sentia a necessidade de continuar a viver a tradição de suas festas. Tomo conhecimento e começo a participar do Terno de Reis, por exemplo, ponto de partida para as amizades com os jovens da cidade. O folclore jacobinense sempre foi notável. Existiam os “ternos” e os “ranchos”. O primeiro que participei era chamado “Rancho das Bonecas”, o qual tinha letra e música do poeta Liberato Barreto jovem da cidade de Morro do Chapéu, radicado em Jacobina, autor também de várias músicas de carnaval. […].

Foto da estação ferroviária original de Jacobina, anos 1920. Autor desconhecido. Disponível em http://www.estacoesferroviarias.com.br/ba_lbras/jacobina.htm. Acervo GPEC.

O ensino primário em Jacobina no ano de 1933

O mês de fevereiro se aproxima e com ele, a minha matrícula na escola primária. Havia nessa ocasião uma escola estadual com algumas professoras regentes: Alice Barros de Figueiredo, Deraldina Ferreira da Silva Teixeira, Maria de Lourdes Mutti Almeida Grassi, Judith Lima e Ismênia Dantas, funcionando em regime de classes reunidas no grande salão da residência da professora Alice, hoje, residência da Sra. Eunice Mesquita Maia. Como aluna do 4º ano primário, fui matriculada com a professora Deraldina.

Era eu muito curiosa e tudo pretendia saber. Perguntava então às minhas professoras: sendo elas as primeiras regentes formadas, quem havia ensinado antes? E vieram as explicações.

As descobertas de Alcira sobre o ensino em fins do século XIX, em Jacobina

Tem a palavra o velho Matatias Emerentino de Castro, cidadão o qual teve como professor o Sr. Manoel Pereira de Lima, que veio da capital para ensinar, à rua dos Ourives. Existiam em sua escola 98 alunos, todos do sexo masculino e o sistema de ensino era o lancasteriano, de decuriões ou monitores.

Na classe havia separação de “cores”, os brancos de um lado e os moreninhos e pretos de outro (!!!). Contou-me o velho Matatias, que obtendo no fim do ano o primeiro lugar “por saber”, o mesmo lhe foi negado por motivo de cor, sendo o seu colega branco, agraciado.

A escola funcionava das 08 as 12 e das 13 às 16 horas. O uso da palmatória justificava-se: era o ensino à base de “a letra com sangue entra!”.

Segundo Senhor Matatias, em sua época funcionavam as escolas para meninas, das professoras Maria Umbelina e sua prima Rosa Alves de Araújo, Berta Brasília Torres de Castro, Maria Lavina Correia de Vasconcelos de Messias Moreira. Cada família tinha uma professora para suas filhas…

O senhor Matatias aos oitenta anos retratado em quadro da pintora Nirvana Rios. Acervo da professora Alcira.

Mais tarde o velho Matatias ainda estudou com o professor Pedro Vasquez Tavares, formado, vindo da Capital. Por longos anos este professor prestou relevantes serviços a esta terra, ensinando Paleógrafo, um livro de capa dura, contendo o desenho das mais difíceis letras feitas à mão, que os alunos deveriam copiar para obter no final do mesmo, a mais bela grafia. Os alunos também liam “Camões”, um livro contendo só poesias. Estudavam ainda: Geografia, Física, Aritmética, História do Brasil e Pátria Brasileira. Os livros eram de Felisberto de Carvalho, Erasmo Braga e de Abílio Cezar Borges.

Capa de um paleógrafo de autoria de Carlos Silva utilizado nas escolas primárias localizado na então denominada Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Acervo GPEC.

Páginas do paleógrafo de autoria de Carlos Silva. Acervo GPEC.

Novos tempos em Jacobina – a educação no início da primeira República

Pela Lei Provincial nº 2049 de 28 de julho de 1880, Jacobina foi elevada à categoria de cidade. A luta por uma terra culta foi se alastrando, seus distritos sendo criados e para eles se providenciando a existência de mestres – escola.

O século XX se anuncia e é uma explosão em todo o território nacional. Em 1901 chega a esta cidade também vinda da capital do Estado para lecionar no povoado, depois vila de Caatinga do Moura, a professora Anísia Dulce da Silveira, posteriormente Anísia Silveira Carvalho Silva, […]. Foi a primeira professora formada deste município, [ que Jacobina ] só em 1975 soube valorizar, pelo menos perpetuando o seu nome em um prédio escolar.

Antes da professora Anísia, era professora leiga em Caatinga do Moura a Senhora Felicíssima Bernovalda da Glória.

Alcira na escola de Dona Alice – 1933 a 1935

O que era esta professora para a sociedade local é digno de registro. […]. Não era jacobinense, [ Dona Alice] era da cidade de Carolina no Maranhão, entretanto, como tantas outras, fez o máximo pelo ensino na Bahia, continuando a ensinar a mais duas gerações, depois de jubilada.

Mesmo sendo aluna de D. Deraldina, também tinha aulas com D. Alice.

Estudávamos até Francês. As classes eram separadas, meninas de um lado, meninos de outro. Na hora da “sabatina” – técnica de ensino da época – havia o debate entre alunos de ambos os sexos e aí a coisa esquentava. Muitas vezes vencemos os meninos!… Minhas colegas desta classe foram: Anísia Ferreira dos Santos, Amália Barbosa, Yvonne Teixeira, Ophelina de Carvalho, Vosiliana Heitor Barbosa. Eu, nesta época, me chamava Alcyra Pereira de Souza.

As sabatinas eram exercícios escolares passados ordinariamente para o Sábado (daí o seu nome) e constavam de recapitulação das matérias dadas num certo período de tempo onde uns estudantes eram argüentes e os outros defendentes. Em nossa escola, a sexta-feira é que era o dia da “sabatina”. Nossos conhecimentos eram avaliados: as pessoas, os hinos e às vezes até discursos eram proferidos e julgados pela banca examinadora…

Em novembro, na festa de encerramento, lembro-me até hoje da poesia por mim recitada, no ensejo de homenagear o grande poeta pernambucano que eu admirava, Ulisses Lins de Albuquerque. Ei-la: […]. (Veja aqui POESIA RECITADA POR ALCIRA NA ESCOLA DE DONA ALICE)

Até 1934, as classes que funcionavam na casa de D. Alice, tinham o nome de Escola Pedro Vasquez Tavares. Seu Inspetor era o professor Joel Americano Lopes. (Conheça um pouco como os inspetores atuavam. Conheça aqui um Boletim de inspeção preenchido pelo inspetor regional Joel Americano Lopes ).

O Promotor Público da cidade, Dr. Fernando Alves Dias (primo do poeta Castro Alves), exercia também o cargo de Delegado Escolar. Aos Delegados Escolares também competia fiscalizar o ensino como os Inspetores, só que estes residiam no município. Em uma […]

A presença do promotor, médico e outras autoridades locais era habitual nas festas escolares realizadas no município. Estes dados se encontram até hoje, em livros de Ata nas Escolas Reunidas Luís Anselmo da Fonseca.

(Continua)

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